Diversidade, em todos os sentidos

Arquivo para janeiro, 2012

O Papa fala o que quer e os católicos não querem ouvir nada!

 

A polêmica envolvendo as declarações recentes do papa Bento XVI e as contestações do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) movimentou hoje um embate de “Trending Topics” no Twitter brasileiro.

De um lado, manifestantes religiosos católicos subiram a hashtag “#RetrateseDepJeanWyllys”, em tentativa de pressionar o deputado Jean Wyllys a se retratar por suas contestações ao papa. O pontífice, em seu discurso de ano novo a diplomatas de cerca de 180 países disse que a união homossexual é um “tema crucial” e que ameaça a humanidade. Quando o papa disse isso publicamente, ofendeu e desrespeitou, na sua dignidade humana, milhões de pessoas homossexuais no mundo inteiro.

Em resposta às declarações de Bento XVI Wyllys informou, em 09/01, pelo Twitter, que “Bento XIV – o papa suspeito e acusado de ser simpatico ao nazismo – disse que o casamento civil igualitario é uma ameaça à humanidade”, e protestou, logo em seguida, contra essa declaração do papa: “Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja.”

O fato de o “#RetrateSeDepJeanWyllys” ter aparecido em segundo lugar nos Trending Topics parece ter gerado o resultado contrário àquele pretendido pelos manifestantes religiosos. Além de Wyllys não ter se retratado, o movimento acabou por gerar uma onda de apoio espontâneo ao deputado.

Não demorou muito para que uma nova hashtag – a “#RetrateSePapa” – superasse o lugar da anterior, aparecendo em primeiro lugar. Grande parte dos posts com a hashtag de apoio a Wyllys vinha acompanhada de #casamentoigualitario, em referência à proposta de emenda constitucional (PEC) pelo casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, formulada pelo deputado.

Saiba mais sobre o tema neste link: http://jeanwyllys.com.br/wp/jean-wyllys-explica-o-discurso-do-papa

BBB: Pelo direito de assistir (e falar sobre) porcaria na televisão

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Há 10 anos é a mesma ladainha. Quando começa o Big Brother Brasil na televisão, começa uma patrulha implacável dos intelectuais de sofá contra quem gosta de assistir o programa. O problema aumentou exponencialmente nos últimos anos, quando as redes sociais ganharam força no Brasil, e os confrontos entre BBBmaníacos e opositores da atração deixaram as rusgas tímidas nos fóruns e listas de internet por batalhas campais sangrentas no Twitter e Facebook.

Sem querer tomar partido de forma deliberada (mas já tomando), acredito que todo mundo tem o direito de gostar de um programa de TV ruim, por pior que ele seja, e falar publicamente sobre ele. Seja BBB, Superpop ou Jornal Nacional (rá!). A TV é de acesso público, a internet é livre e cada um fala o que pensa sobre o programa que escolhe assistir. Quase uma democracia né?

O problema é que a patrulha anti-BBB cerceia e discrimina quem assiste o programa ou quem fala sobre ele nas redes sociais. Não quer assistir BBB? Não é obrigado, assiste SBT, Band, Record, ou se você for sortudo, mude para um canal bacana da TV a cabo. Não quer ver as pessoas falando sobre BBB? Feche o twitter ou o facebook durante o horário do programa e vai ler um livro, ou aproveite para ver uns vídeos legais no YouTube. Em ultimo caso, bloqueie, exclua, elimine, extermine e arranque os BBBzeiros que estão importunando sua timeline.

A gente só não pode impedir as pessoas de curtir o BBB ou outro programa qualquer, ou perder a paciência pelo flood que acontece durante a atração. Tem gente que odeia política e tem de agüentar quietinha o ti ti ti sobre candidatos durante as eleições e tem gente que prefere a morte a um jogo de futebol, mas respira fundo e atura os debates acalorados durante jogos do Brasileirão.

Tudo isso faz parte da boa convivência, da etiqueta nas redes sociais. Vamos respeitar o direito dos outros em assistir porcaria. Quem nunca assistiu Superpop, Topa Tudo Por Dinheiro ou Raul Gil, que atire a primeira pedra.

PS: Me inscrevi para participar desta edição do BBB, passei por três seletivas, mas não fui chamado pra casa. Já assisti e falei MUITO sobre o programa, mas hoje, acho bem sem graça. Ainda quero participar, afinal, quem não quer fama e R$1,5 milhões? 😉

Re(post): Afinal, o que diz a lei de combate a homofobia?

 

Entre a extensa lista de citações do filósofo grego Aristóteles, uma é essencial para que todo este texto faça sentido: “O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete”. Ser gay não é o único motivo que me faz acreditar que o projeto de lei substitutivo 122, de 2006, adiciona a discriminação aos homossexuais a lista de crimes da lei º 7.716 seja benéfico para toda a sociedade. O que me faz acreditar neste projeto é seu texto, claro, conciso e objetivo.

Ao contrário do que vociferam pastores evangélicos Brasil a fora, como Silas Malafaia e o senador Magno Malta (PR/ES), a PL122 não torna os gays uma ‘categoria intocável’. A discriminação por orientação sexual (homo/bi/trans e hetero) passa a incorporar o texto de uma lei já existente, que pune o preconceito por raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero e sexo. Aprovada a modificação, a lei ganha o texto ‘orientação sexual e identidade de gênero’ como complemento.

A lei, que já cita uma extensa lista de crimes contra estas fatias da sociedade, adiciona ainda impedir ou proibir o acesso a qualquer estabelecimento, negar ou impedir o acesso ao sistema educacional, recusar ou impedir a compra ou aluguel de imóveis ou impedir participação em processos seletivos ou promoções profissionais para as pessoas negras, brancas, evangélicas, budistas, mulheres, nordestinos, gaúchos, índios, homens heterossexuais, mulheres homossexuais, travestis, transexuais… pra TODO MUNDO! Ou seja, a lei não cria artifícios para beneficiar apenas os gays, mas para dar mais garantias de defesa de seus direitos para toda a sociedade, da qual a comunidade gay está inserida.

O único artigo que cita diretamente novos direitos constituídos a homossexuais é o oitavo, que torna crime “proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos ou cidadãos”, deixando claro que os direitos são de TODOS, e não apenas de um grupo seleto de pessoas.

Mas e a liberdade de expressão?

O ponto mais criticado por evangélicos, especificamente, é a perda da liberdade de expressão. Ora, onde um deputado em sã consciência faria um projeto desta magnitude e não estudaria a fundo a constituição para evitar incompatibilidades? A PL122 apenas torna crime atos VIOLENTOS contra a moral e honra de homossexuais, o que não muda em nada o comportamento das igrejas neo-pentecostais em relação a crítica. Uma igreja pode dizer que ser gay é pecado? Pode. Assim como pode dizer que ser prostituta é pecado, ser promiscuo é pecado, ser qualquer coisa é pecado. A igreja pode dizer que gays podem deixar o comportamento homossexual de lado e entrar para a vida em comunhão com Jesus Cristo? Pode, claro! Tudo isso é permitido, se há homossexuais descontentes com sua orientação sexual, eles devem procurar um jeito de ser felizes, ou aceitando sua sexualidade ou tentando outro caminho, como a igreja, por exemplo.

Agora, uma igreja pode falar que negros são sujos, são uma sub-raça e que merecem voltar a condição de escravos? Pode dizer que mulheres são seres inferiores, que não podem trabalhar e estudar, e que devem ser propriedade dos maridos? Pode dizer que pessoas com deficiência física são incapazes e por isto devem ser afastadas do convívio social por não serem ‘normais’? Não, não podem. Da mesma forma, que igrejas não poderão dizer (mesmo porque é mentira) que ser gay é uma doença mental, que tem tratamento, que uma pessoa gay nunca poderá ser feliz e que tem de se ‘regenerar’. Isto é uma violência contra a moral e a honra dos homossexuais, e este tipo de conduta ofensiva será passiva de punição assim que a lei for aprovada.

O que a PL 122 faz é incluir. Ela não cria um ‘império Gay’, como quer inadvertidamente propagar um ou outro parlapatão no Senado. A PL 122 não deixa os homossexuais nem acima, nem abaixo da lei. Deixa dentro da lei. Quem prega contra a lei tem medo de perder o direito de ofender, de humilhar, de destruir seu objeto de ódio. Quem prega contra a PL 122 quer disseminar a intolerância. E tudo que nossa sociedade precisa hoje é aprender respeito e tolerância, e descobrir de uma vez por todas que é a pluralidade que torna nossas breves existências em algo tão extraordinário.

Ditadura gay! #1 (Laerte)

Gandalf e Magneto são gays!

Sir Ian Murray McKellen é um ator inglês de teatro e cinema. Tornou-se especialmente conhecido pelo grande público após atuar na trilogia O Senhor dos Anéis, X-Men e O Código Da Vinci.

Esqueci alguma coisa? Ah, claro: ELE É GAY!

O ator foi eleito o homossexual mais influente do Reino Unido em pesquisa publicada pelo jornal The Independent. Ian McKellen assumiu sua homossexualidade no final da década de 1980 e é co-fundador do grupo de Stonewall, que faz campanhas pelos direitos dos homossexuais. Quando lançava O Código Da Vinci no Festival de Cannes, fez piadas quando perguntado sobre a polêmica do filme com a Igreja Católica: “Sei que a Igreja tem problemas com os gays. Essa é uma boa notícia para eles: Jesus não era gay!”, disse.

Eles tem Silas Malafaia pra lutar pelos direitos dos homofóbicos.

Nós temos Gandalf e Magneto!

Ai se eu te pego, mundo a fora!

Há muito o que se discutir sobre a qualidade da música de Michel Teló. A discussão (talvez) passa pelo gosto das massas, que preferem músicas com uma baladinha dançante e rimas fáceis do letras elaboradas, com poesia e música trabalhados como arte. Discussão sobre gosto musical (ou falta dele) a parte, a música de Teló está ganhando o mundo: MESMO! Fiz uma compilação rápida (só das versões em outra lingua, porque com legenda, tem mais de 30), e a gente pode ver versões da música do cantor paranaense, desde videos caseiros até clipes bem produzidos. Pra quem gosta, é um prato cheio!

Em Guaraní, do Paraguai

Em polonês

Em holandes

Em italiano

Em francês

Em espanhol

Em ingles

Edith Modesto: “Ninguém foi preparado para ter filhos gays”

 

Alguns pais não conseguem aceitar a homossexualidade dos filhos, e outros chegam ao extremo da violência física, psicológica e até expulsam os filhos de casa. A reação da professora universitária e doutora em semiótica Edith Modesto foi diferente. Mãe de sete filhos ela fundou, em 1997, o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), cujo objetivo principal é aproximar os pais de seus filhos gays, após descobrir que seu filho mais novo era gay. Com a intenção de compreender melhor a sexualidade do próprio filho, Edith conseguiu ir além: ajudou e ajuda centenas de pais de homossexuais a aprender a lidar com este tema ainda tão delicado. Em entrevista exclusiva ao Eleições Hoje, Edith fala sobre homofobia, relacionamento entre pais e filhos, e diz que homossexuais precisam ser mais politizados e votar em gays e lésbicas.

 

Como começou o teu projeto junto aos pais dos homossexuais?

Edith Modesto – O projeto para ajudar pais e jovens LGBTs começou há mais de 20 anos, logo que fiquei sabendo que meu sétimo filho, o caçula, é homossexual. Éramos somente 4 mães.

 

Vencer os seus próprios preconceitos foi uma das maiores dificuldades?

Edith Modesto – Sem dúvida. Preconceito gruda como chiclete no cabelo e ele é internalizado em todos nós, inclusive nos próprios LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgêneros).

 

Como os pais encaram, em geral, a homossexualidade dos filhos?

Edith Modesto – Os pais, no início do processo de aceitação, conforme explico no meu livro “Mãe sempre sabe?” (Editora Record), encaram como uma desgraça que se abateu sobre eles. Ninguém foi preparado para ter filhos homossexuais (LGBTs), pois essa condição ainda não foi naturalizada entre nós.

 

Existem reações adversas, que chegam a violência física? Tem pais que se negam a participar do projeto mesmo com o pedido dos filhos?

Edith Modesto – Certamente, há pais que se negam a participar do projeto. A maioria, no início do processo, poucos não aceitam nunca. A violência doméstica é enorme no Brasil, por vários motivos. Em pesquisa feita pelo Instituto de Psicologia da USP, em parceria com as pesquisadoras do Laboratório da criança e adolescente (LACRI), aventamos a hipótese de que a violência doméstica contra os LGBTs é a maior atualmente. E a autoviolência é enorme também. Há muitas tentativas de suicídio entre jovens LGBTs, há um número menor de tentativas de suicídio entre as mães, mas também as há.

 

Você acha que a religião tem uma papel importante na não-aceitação de filhos homossexuais pro parte dos pais? Como você trabalha com isso?

Edith Modesto – A religião tem um papel importantíssimo na vida da maioria dos seres humanos. É uma pena que, em se falando de Deus, as pessoas possam ser homofóbicas! Ser religiosos dificulta muito a aceitação dos pais a filhos LGBTs. Mas, na maioria das vezes, com um trabalho de paciência e solidariedade, o amor aos filhos vence.

 

Você acredita que a homofobia aumentou no Brasil, ou apenas que há mais visibilidade sobre o assunto?

Edith Modesto – Eu penso que a homossexualidade está sendo naturalizada pouco a pouco no Brasil. Mas essa aceitação acirrou a homofobia de alguns. Por isso a violência contra os LGBTs recrudesceu. São os homofóbicos, desesperados, se Deus quiser, nos estertores da morte.

 

Você acredita que a condição de vida dos homossexuais progrediu nesta década? Em que aspectos ela ainda deixa a desejar?

Edith Modesto – Eu penso que a condição de vida dos homossexuais melhorou nessa década. Mas ainda falta muito. Principalmente na escola e nos lares. Hoje, já dá pra aceitar que o filho da vizinha é gay, mesmo que as amigas tenham pena dela. Mas, quando a questão entra em casa, é ainda difícil.

 

Quais são os maiores entraves para a conquista de benefícios por parte dos LGBTs, como casamento civil, lei contra a homofobia, etc?

Edith Modesto – A maior dificuldade atualmente, no meu entender, é a falta de politização dos gays. Os gays e lésbicas precisam votar em homossexuais, para formarem uma bancada que lute por eles! Afirmo isso, mesmo sabendo que não é tão simples esse empoderamento, considerando que os homossexuais, discriminados desde jovens, ficam com a autoestima baixa.

 

Você é favorável a uma lei que criminalize a homofobia?

Edith Modesto – Há muita necessidade de uma lei que criminalize a homofobia. Precisamos de uma bancada para lutar pelo PLC 122, porque qualquer tipo de discriminação e violência contra as diferenças é crime. Por que a violência contra os negros é crime e contra os LGBTs não é?

 

O que você acha dos tratamentos para ‘conversão de sexualidade’, existentes em muitas igrejas e consultórios psicologicos? Você acredita que elas causam danos no desenvolvimento da sexualidade dos jovens?

Edith Modesto – O tratamento de reversão já é considerado crime. Psicólogos que fazem isso perdem seus diplomas. Mas o problema é mais complexo. Precisamos de disciplinas nas faculdades, não só de psicologia, sobre “diversidade de orientação sexual e diferenças de gênero”.

 

Você acha que a escola peca em ensinar para a diversidade sexual? Pesquisas apontam para um alto índice de homofobia nas escolas, como reverter esse quadro?

Edith Modesto – As escolas devem conversar com os jovens sobre a diversidade de orientação sexual, sem dúvida. Mas, novamente, essa ação tão importante, é de grande complexidade. Há que preparar capacitadores para os professores e considerar que qualquer ação na escola não terá resultados positivos se não envolver a comunidade. Assim, teremos de considerar as diferenças socioculturais das comunidades, das escolas, dos professores. Não adianta um kit educativo contra a homofobia, muito bem feito, se ele não for usado, isto é, se os professores não forem preparados e souberem e aceitarem usá-lo.

 

Acha que uma educação para a diversidade, falando sobre homossexualidade e transsexualidade poderia ‘influenciar’ a sexualidade de jovens que não são gays, como apregoam alguns pastores evangélicos?

Edith Modesto – De jeito nenhum! Eu creio que a diversidade de orientação sexual é uma condição natural e espontânea do ser humano.

 

O que você tem a dizer a um jovem homossexual que está descobrindo a sua sexualidade e não sabe como agir em relação a ela?

Edith Modesto – Eu teria o cuidado de acompanhar esse processo no ritmo do adolescente, considerando o preconceito já internalizado nele e as pressões familiares, escolares e sociais de modo geral que ele sofre.

 

E aos pais que descobrem que tem um filho gay, como agir, em linhas gerais?

Edith Modesto – Com os pais, temos de agir também com muita paciência e compreensão. NInguém foi preparado para ter filhos diferentes, na nossa cultura. O positivo, é que o amor, quase sempre, vence!

 

A aceitação da homossexualidade dos filhos vem com o tempo? Tem pais que nunca aceitam o fato?

Edith Modesto – Sim, a aceitação de um filho LGBT é um processo. Para alguns, mais rápido, para outros, mais lento. Poucos nunca aceitam o fato, muito poucos.

 

O Brasil é um país homofóbico? A gente já avançou muito em questões como o racismo, mas ele ainda existe e com força. Você acha que a gente mascara nossos preconceitos para que eles pareçam menores?

Edith Modesto – Eu ainda considero o Brasil um país homofóbico, mesmo que essa característica negativa esteja em processo de melhora. Eu penso que, atualmente, há um modismo e que o “politicamente correto” mascara bastante o preconceito e a homofobia que ainda existem, infelizmente. Mas está melhorando.

 

(Entrevista concedida a mim e publicada originalmente em http://www.eleicoeshoje.com.br/edithmodesto/#ixzz1igJscMHs)

“Não tenho preconceito nenhum, mas…” (Laerte)

Fundador de grupo de ‘cura de homossexuais’ que se assumiu gay decreta: “Ex-gay não existe”

(Entrevista concedida a mim, publicada originalmente no site Eleições Hoje que pode ser lida aqui)

Nada melhor do que um exemplo para refutar a eficiência de tratamentos para a conversão de orientação sexual, que dizem que gays podem se ‘converter’ em heteros. O professor de inglês, filosofia e teólogo carioca Sergio Viula, 42 anos, foi um dos fundadores do Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), ONG evangélica que dá auxílio a pessoas que desejam abandonar a homossexualidade. Ele casou-se, teve dois filhos e viu de perto os métodos de ‘reorientação sexual’. Sergio conversou comigo com exclusividade, e mostra que os métodos de mudança de orientação sexual são ineficazes e causam dor e sofrimento a quem se dispõe a passar por qualquer deles.

Como começou sua vida junto à igreja evangélica? Como foi a sua entrada?

– Eu comecei aos 16 anos, numa igreja noepentecostal, mas depois migrei para a igreja batista. Eu me converti a partir da pregação de colegas, não era de família, que era católica. Hoje parte é católica e parte é evangélica.

Nessa época você já sabia que era gay? Já tinha tido relacionamentos com guris?

– Havia tido relacionamentos gays, sim, mas não assumia, eu pensava que fosse passageiro. Meu primeiro relacionamento foi aos 12 anos, com um garoto um pouco mais velho, de forma escondida, é claro, durante dois anos. Na verdade, queria pensar que tudo isso fosse passageiro, por causa das pressões em casa. Minha família era muito tradicional.

Como foi o processo de “virar ex-gay”?

– Na verdade, ex-gay não existe, é pura auto-sugestão. Eu comecei a ir à igreja e percebi que os homossexuais não tinham como lidar com suas ‘dificuldades’, por falta de orientação das lideranças, então decidi fundar o Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), junto com João Luiz Santolin e Liane França. Foi aí que comecei realmente a dizer em momentos oportunos que era ex-gay.

Você nunca se convenceu que tinha virado ex gay? Sempre soube que estava se enganando?

– Hoje sei que estava me enganando. Na época, pensava que qualquer sentimento ou atração fosse mera ‘tentação’ e que isso poderia ser superado com oração e dedicação a deus. No grupo, basicamente, pensávamos que ser gay fosse pecado, que devia ser confessado e abandonado e para isso, fazíamos proselitismo, aconselhamento, oração, pregação, recomendávamos certos livros, leitura bíblica, coisas que os crentes geralmente fazem, mas com foco na homossexualidade, sempre demonizando a homoafetividade, infelizmente. Eu trabalhei com a igreja num total de 18 anos, o Moses começou em 1997, em 2003 eu estava fora, foram quase sete anos. Tínhamos psicólogos parceiros e contávamos com vários voluntários. Uma vez enchemos um ônibus e levamos para o Miss Brasil Gay em Juiz de Fora só para evangelizarmos os LGBT que foram ao evento, mas na diretoria eram cerca de 10 pessoas.

Mas como era esse processo de ‘abandonar o pecado’? Era como um tratamento?

– Isso não acontecia de fato, era o que se chamava discipulado, acaba sendo uma lavagem cerebral. Você tem que se isolar do seu antigo círculo de amigos, começar a se enfiar nas reuniões da igreja, fazer sessões de aconselhamento, orar, jejuar, essas coisas. Quando acontecia de alguém se envolver com outro homossexual, ele tinha que confessar o que fez, UMA LOUCURA DO CARALHO! Desculpe, mas ainda hoje tenho até raiva de lembrar disso.

Por que raiva?

– Ninguém deixava de ser gay, houve relacionamentos até dentro do grupo, entre uma atividade e outra da igreja, eles sempre arrumavam tempo pra isso. Você consegue imaginar quanto sofrimento para mim mesmo e para todos os que atuaram ou foram influenciados por esse trabalho? É irritante! E tem gente até hoje repetindo esse discurso imbecil.

O que tu sente quando vê pessoas como o pastor Silas Malafaia fazendo pregações do tipo que você fazia? É um discurso parecido? 

– Ele é um idiota! Eu era um garoto quando me envolvi com tudo isso, tinha pouquíssima experiência de vida e não ainda não havia tanta informação como hoje. Agora, ele atua na base da má-fé mesmo, com interesses financeiros, projetos de poder, etc. E diz ele que nunca foi gay, será? Fico muito desconfiado de gente que gasta tanta energia e dinheiro para combater algo que não tenha nada a ver consigo mesma. Entendo heterossexuais que compreendem os riscos da homofobia, mas não entendo heterossexuais que quase surtam só por saberem que os gays estão felizes, saudáveis e produzindo para o país…

Será que não é pra ter uma bandeira atualmente? Ganhar visibilidade, sei lá… 

– Não deixa de ser má-fé. Só confirma minha tese.

Quando você decidiu que era momento de parar? Você saiu do movimento ao mesmo tempo em que saiu do armário?

– Sim, saí ao mesmo tempo. Tudo aconteceu quando eu tive certeza de que já tinha feito e crido ao máximo. A gota d’água foi uma viagem a Cingapura, durante a qual conheci um filipino e fiquei com ele. Já voltei decido que iria colocar um fim nessa panacéia. Fiz isso e comecei imediatamente a repensar diversas das minhas posturas e crenças, levou ainda dois anos para que eu dissesse tudo o que digo até hoje. Houve perseguição por parte do Moses, muita gente ficou em choque, mas eles tiveram que se dobrar, pois minha atuação no movimento era grande. Minha maior projeção, porém, se dava na igreja. Eu era pastor, editor do jornal Desafio das Seitas, que teve seu auge durante minha atuação, e por aí vai…

E na sua família? Qual foi a reação?

– Houve um choque por parte dos meus pais, mas meus filhos nunca criaram problema, só ficaram perplexos, porque eu saí da igreja, já que eu era tão dedicado. Separei-me da mãe deles, mas isso não criava grandes problemas, aparentemente. Só me perguntaram francamente sobre o assunto aos 12 (ela) e aos 11 (ele). Ambos compreenderam numa boa e sempre foram meus amigos. Relacionam-se muito bem comigo e com meu parceiro Emanuel.

Você hoje se sente completo, feliz?

– Sim, hoje me sinto em paz comigo mesmo, feliz e me pergunto como pude ter suportado tanta castração inútil por tanto tempo.

Você acha que o que vocês faziam era uma violência, contra vocês mesmos, e contra os outros?

– Sim, era uma violência contra nós mesmos, por termos internalizado a homofobia que nos circundava desde cedo, e contra os outros, porque reproduzíamos essa mesma homofobia que eles mesmos já tinham internalizado. Só reforçávamos ainda mais isso.

Você não apenas largou a igreja, o movimento, como deixou de acreditar em deus… Como se deu isso? 

– Isso se deu em função de questionamentos honestos e ousados sobre deus/deuses, escrituras cristãs e de outras religiões, igreja e outras instituições religiosas. Meu pensamento e atitude com relação a ideia de deus/deuses não é mero fruto de sofrimento com essa ou aquela igreja ou crença. Na verdade, muitas igrejas se abriram para mim quando saí do armário e confessaram seu interesse em que eu, não só participasse da vida da igreja, como ministrasse como pastor dela. O próprio bispo fundador da Metropolitan Community Church, Troy Perry, me disse isso pessoalmente. Também não foi por ver mau comportamento de crentes em geral, uma vez que conheço alguns que considero pessoas fantásticas até hoje (tanto do mainstream evangélico e protestante, como das modernas igrejas inclusivas). Tendo isso em mente, nem deus, nem escrituras, nem igrejas passam pelo crivo da razão, e não me refiro à razão de uma mente brilhante como a de Nietzsche, Darwin, Sartre, Hopkins, Dawkins, etc., refiro-me à razão de uma mente mediana como a minha. Não posso ir contra mim mesmo e contra aquilo que enxergo tão distintamente. No entanto, defendo a liberdade. E por isso, crer e não crer são coisas que não podem ser controladas, coibidas, exceto quando colocam os direitos humanos em xeque.

Pra terminar, o que você diria pra um jovem gay que está passando por este processo de ‘cura espiritual da homossexualidade’? Vale a pena? 

– Conversão religiosa que não admite e CELEBRA sua homossexualidade não merece seu tempo e talento. Se quiser frequentar alguma comunidade, procure uma que tenha maturidade até para questionar a validade das assertivas religiosas. Mas, preferencialmente, viva sem depender de muletas existenciais quaisquer que sejam elas. Aproveito para sugerir a leitura de um post escrito por mim. Esse post nasceu do esboço de uma palestra que dei na Igreja Ecumênica de Copacabana por ocasião das comemorações do dia da Bíblia no calendário católico. Foi esse ano.

George Michael critica grupo cristão que teria rezado por sua morte

O ‘amor cristão’ pode ser exemplificado neste matéria. Rezar para alguém morrer é uma das coisas mais infelizes que eu já li na minha vida. Sorte a do George Michael (e a nossa) de que rezar é completamente sem eficácia.

George Michael critica grupo cristão que teria rezado por sua morte

O cantor George Michael criticou os membros de um grupo cristão norte-americano com xingamentos depois de saber que eles teriam orado para que o cantor morresse durante sua recente batalha contra a pneumonia. As informações são do site Female First.

Assumidamente homossexual, Michael esteve bastante doente no mês passado e acabou usando sua conta de Twitter para, em inglês, atacar os cristãos que alegaram que ele poderia estar com AIDS, ao invés de pneumonia, dizendo que merecia morrer por causa de sua sexualidade.

George Michael escreveu: “vocês sabiam que, quando eu estava lutando por minha vida na Áustria, havia um monte desses adoráveis pessoas, que se intitulam ‘cristãos para uma América Moral’, que oravam o tempo todo para que eu morresse?”.

Na sequência, ele pediu desculpas aos “bons cristãos”, mas acabou xingando o tal grupo pelo microblog. E terminou: “Admito que já bebi alguns copos de vinho. É melhor ir para o jantar antes de entrar em mais algum problema. Amor a todos vocês”.

(Via Portal Terra)