Diversidade, em todos os sentidos

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Questionário para entender melhor este fenômeno do heterossexualismo

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(Este questionário heterossexual reverte questões que são feitas com certa frequência por heterossexuais para gays e lésbicas. Ao responder este tipo de questão, muitos heterossexuais vão poder sentir um pouco da violência intelectual e emocional as quais muitos gays são submetidos ao ter que responder perguntas opressivas e discriminatórias que tem a heterossexualidade como referência).

  1. O que você acha que causou sua heterossexualidade?
  2. Quando e como você decidiu ser heterossexual pela primeira vez?
  3. Existe uma possibilidade de que seu heterossexualismo seja apenas uma fase, e que você possa supera-la?
  4. Existe a possibilidade de seu heterossexualismo seja um reflexo do medo que você sente por pessoas do mesmo sexo?
  5. Se você nunca dormiu com alguém do mesmo sexo, existe a possibilidade que tudo o que você realmente precise seja de uma boa noite de sexo gay para deixar o heterossexualismo?
  6. Pra quem você já revelou suas tendências ao heterossexualismo?
  7. Porque vocês heterossexuais sentem-se compelidos a atrair os outros para o seu ‘estilo de vida’?
  8. Porque você insiste em tentar esfregar seu heterossexualismo na nossa cara? Você não pode apenas ser o que você é e ficar quieto?
  9. Você iria querer que seus filhos fossem heterossexuais, mesmo com os problemas todos que eles poderiam encarar?
  10. A esmagadora maioria dos pedófilos e abusadores de crianças são heterossexuais. Você considera seguro deixar com que seus filhos sejam ensinados por professores heterossexuais?
  11. Mesmo com todo o suporte para o casamento entre pessoas do sexo oposto recebe, os números de divórcios seguem aumentando. Por que tão poucos casamentos heterossexuais são estáveis e duradouros?
  12. Por que os heterossexuais dão tanta ênfase ao sexo?
  13. Considerando a ameaça da superpopulação da terra, como a raça humana sobreviveria se todo mundo fosse heterossexual?
  14. Você acredita que um terapeuta heterossexual pode ser objetivo? Você não teme que um terapeuta assim possa estar inclinado a te influenciar na direção de suas próprias tendências?
  15. Quantitativamente, a maioria das doenças atinge heterossexuais ao invés de homossexuais. Você não acredita que isso seria um indicativo para que seja proibida a doação de sangue por pessoas com práticas sexuais como o heterossexualismo?
  16. Como você pode ser uma pessoa completa se limita exclusivamente ao compulsivo sexo heterossexual, e falha ao desenvolver seu natural e saudável potencial homossexual?
  17. A maioria dos pecados, na maioria dos livros religiosos, foram cometidos por heterossexuais. Você não acredita que este é um recado muito claro de Deus, de que o heterossexualismo é pecado e é um comportamento abominável, devendo ser evitado ao máximo, exceto para a reprodução?
  18. Temos observado que pouco heterossexuais são realmente felizes. Técnicas estão sendo desenvolvidas para permitir que você mude este panorama, se você realmente quiser. Você consideraria tentar uma terapia de reversão sexual, para abandonar o heterossexualismo?

(Tradução e adaptação do texto originalmente publicado aqui).

João Pessoa recebe ato de protesto contra o deputado federal Marco Feliciano a frente da Comissão de Direitos Humanos

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João Pessoa é uma das dezenas de cidades brasileiras que recebe neste sábado (16) uma manifestação contra a eleição do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. A concentração do ato acontece a partir das 10h, no Parque Sólon de Lucena (Lagoa), ponto de partida dos manifestantes, que se deslocarão até Praça Rio Branco, no centro da cidade. A manifestação conta com o apoio de quase quarenta entidades, incluindo partidos políticos, movimentos sociais, órgãos públicos e entidades de classe.

Em carta, as entidades repudiaram a eleição de Marco Feliciano por entender que suas declarações ferem os princípios da laicidade do Estado Republicano e vão de encontro a Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal, reforçando e estimulando preconceitos e a intolerância contra grupos sociais, raciais e sexuais historicamente discriminados e marginalizados. Feliciano ganhou destaque nacional com declarações de cunho homofóbico e racista, chegando a dizer que ‘africanos eram descendentes amaldiçoados de Noé’ e que a AIDS é uma doença gay, além de se opor radicalmente à igualdade de direitos aos cidadãos LGBT.

As entidades que subscrevem a carta exigem que o Poder Legislativo reverta a escolha, destituindo o Deputado Feliciano desta Comissão, sob risco de, ao dificultar a defesa dos direitos humanos, comprometer o desenvolvimento do nosso Estado Democrático de Direito e frustrar a expectativa que toda a sociedade brasileira deposita nesta instituição. “Como um parlamentar com este perfil pode garantir que esta Comissão defenderá os direitos que o mesmo está violando? Como uma liderança religiosa, oriunda de uma crença que prega a igualdade e a tolerância, se expressa de forma contrária à fundamentação deste credo religioso?”, questiona a carta.

De acordo com o presidente do Movimento do Espírito Lilás, Renan Palmeira, uma das entidades que organiza o protesto, o evento expressa a unidade dos movimentos em direitos humanos e a luta pela consolidação dos ideais desses direitos. “Buscamos dizer, com centenas de vozes diferentes, ‘fora Marco Feliciano’, que é um fundamentalista religioso, conservador, cujas atitudes vão de encontro aos ideais dos direitos humanos e do estado laico”, disse Renan.

Subscrevem a carta o Movimento do Espírito Lilás (MEL), Coletivo Feminista (CUNHÃ), Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Marcha Mundial de Mulheres, Centro de Cultura Afro Brasileira Omidewa, Centro de Direitos Humanos da UFPB, Articulação de Juventude Negra da Paraíba, Ateliê Multicultural Elionai Gomes, União Brasileira de Mulheres (UMB/PB), Coletivo Desintoca, Consulta Popular, Frente Feminista, NEP – Flor de Mandacaru, Associação de Livres Pensadores da Paraíba (ALPP), Centro Dom Oscar Romero (CEDHOR), CEDH, Assembleia Popular (AP), Comissão de Direitos Humanos da OAB, Comissão de Direito Homoafetivo e da Diversidade Sexual da OAB, Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino Privado da Paraíba (SINTEENP), Conselho Regional do Assistente Social (CRESS), Igreja Metropolitana (ICM), Coordenadoria Municipal de Promoção a Cidadania LGBT e da Igualdade Racial, Núcleo de Direitos Humanos da UPFB (NDU/UFPB), Movimento Negro Organizado da Paraíba, Bamidelê – Organização de Mulheres Negras (OMN), Fórum Paraibano pela Igualdade Racial (FOPPIR), Rede de Mulheres de Terreiro, Federação dos Cultos Afros Brasileiros (FICAB), FEPUMCANJU, Ilê Tata do Axé, Setorial de Combate ao Racismo do PT-PB, Setorial LGBT do PT-PB, Comissão Setorial Municipal de Mulheres do PT-PB, PSOL, Setorial de Direitos Humanos do PV, Associação de Mulheres Trans da Paraíba (ASTRANS-PB), SOS Mata Atlântica, Associação Paraibana dos Amigos da Natureza (APAN), Sindicato das Domésticas de João Pessoa e APAE.

Opção sexual existe sim!

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Desde que os movimentos LGBTs começaram a conquistar um tímido (mas importante) espaço de visibilidade nas ruas e na mídia mundial e brasileira, uma discussão que surge sempre entre ativistas, pró e contra os direitos dos homossexuais é se ser gay é uma escolha ou se é algo ‘natural’. No centro deste embate, uma discussão ideológica e filológica sobre o uso do termo ‘orientação sexual’, preferido pelos ativistas LGBT, em contraponto ao ‘opção sexual’, usado por fundamentalistas religiosos e reacionários de todas as linhas.

Este último tem um caráter obviamente pejorativo e é usado para tornar a sexualidade humana (no caso, a homossexualidade), em algo menor, uma besteira que a gente faz e que amanhã pode corrigir. Ao chamar de ‘opção’, diminui-se a complexidade da construção da sexualidade humana, inerente a todas as pessoas, cujas vivências, experiências, e influências ambientais e culturais alteram o resultado final. A ‘opção’ não é uma construção, mas uma escolha. É como abrir o freezer da padaria e escolher entre tablito e chicabon, sem muita reflexão sobre o que se está fazendo. A tal ‘opção sexual’ ignora a complexidade do processo de construção da sexualidade, que influencia quem somos hoje, e reduz ao simplismo da escolha nossos afetos, nossos amores.

Os adeptos da ‘opção sexual’ adoram sustentar seu frágil argumento com a seguinte lógica: “A ciência não provou que as pessoas nascem gays ou lésbicas. Então, ser gay e lésbica é uma escolha. Se não for assim, cadê o gene gay? Onde está o DNA do homossexual?”. Como já se percebe, os adeptos da ‘teoria da opção’, gostam de reduzir a questão a um simplismo infantil. Realmente, a ciência não tem um consenso sobre o que torna pessoas heterossexuais ou homossexuais, mas sabe-se que fatores genéticos (não ligados apenas a um único gene), ambientais, biológicos e culturais moldam a sexualidade humana ainda na primeira infância, e que este processo não pode ser alterado. Ou seja: se você tiver de ser heterossexual, nada mudará este processo. A recíproca é verdadeira para os homossexuais e bissexuais.

(E outra: a ciência não provou que existe ‘gene gay’, mas também não atestou que a sexualidade humana seja passível de escolha. Nestas horas, tem muito religioso que faz ‘uso’ da ciência, mas a ignora em questões como eutanásia e aborto. É a ‘confiança seletiva’, né?)

 

Então não existe ex-gay? Existe sim!

Ok, não existe processo que altere o produto final (e natural) da sexualidade humana. Mas e como existe gente por aí dizendo que é ‘ex-gay’ ou ‘ex-lésbica’, casando, tendo filhos e vivendo uma vida (pretensamente) feliz? Simples: você não molda seus desejos, mas molda sua expressão. Você não escolhe de quem gosta, mas pode emular um sentimento, ‘fingir que gosta’, por conveniência ou opressão. Se não acontecesse assim, milhões de casamentos arranjados pelo mundo a fora não teriam funcionado durante a história da humanidade. Funcionaram, geraram filhos e ‘famílias’, que por mais falta de interesse que houvesse entre o casal, cumpriram seu papel social.

Um ‘ex-homossexual’ é uma pessoa que sente atração sexual e afetiva por pessoas do mesmo sexo, mas que reprime estes sentimentos e busca relacionar-se com pessoas do sexo oposto. Esta escolha raramente acontece de forma espontânea, natural, sendo normalmente ocasionada por pressão da família, dos amigos, da igreja e dos demais grupos sociais que o sujeito está inserido. É o caso dos padres e outros religiosos celibatários, que optam por não fazer sexo (teoricamente), nem com homens nem com mulheres. Os desejos (ou tentações, como eles gostam de chamar) estão lá, mas não encontram vazão, por um motivo ou outro. Neste caso, cabe apenas um exercício de semântica. Se um homossexual deixa de fazer sexo com homens, ele vira um ex-gay. Se um heterossexual entra para uma seita que exige o celibato, ele vira ex-hetero. Certo? Se a gente colocar nestes termos, tudo certo.


O terrorismo psicológico

Em linhas gerais, eu não veria problema algum em um hetero ou gay buscar experiências com o sexo oposto ou com o mesmo sexo, desde que estas experiências façam parte de uma experimentação saudável da sexualidade humana, sem paranóias, cobranças ou obrigações.

Um heterossexual pode experimentar sexo com o mesmo sexo e curtir, passando a ser bissexual ou até mesmo gay/lésbica. O mesmo vale para homossexuais, que durante sua vida, podem descobrir novos desejos, se atrair por outras pessoas, tentar coisas novas. Mas o processo tem de ser natural e saudável, e não imposto por ninguém.

A afetividade das pessoas, em todos os tons que possam existir, não pode ser alvo de maledicências, de ataques morais e até mesmo de terrorismo psicológico/religioso, o que tem levado muitos homossexuais, com seus desejos completamente naturais, a mutilar seus afetos, sua consciência e sua identidade. Não há paraíso, céu ou qualquer outra promessa post mortem que compense negar quem você verdadeiramente é. Não há pressão psicológica em casa, na escola ou no trabalho que não encontre ombros amigos que aceitem você como você verdadeiramente é. Nenhuma pessoa verdadeiramente de bem pode compactuar com tamanha (e silenciosa) violência.

Adolescentes sofrem agressões homofóbicas durante festa no interior da Paraíba

ATUALIZAÇÃO (29/05/12 – 22h24):

 

Segundo diversos sites de notícias, os próprios ‘agredidos’ confessaram que começaram a briga, que não teve motivação homofóbica.

 

Segue o relato de Kika Naelle, que também compartilhou as fotos do menor agredido no Facebook.

“Não passou de uma grande mentira o caso de agressão a um menor por caso de homofobia, no evento Micaranhas, na cidade de São José de Piranhas na Paraíba.

O menor usou de má fé para comigo e mais dois amigos e isso me incentivou a iniciar o movimento expondo a minha indignação sobre o caso. Não só eu como também outros dois amigos acreditamos na versão relatada pelo menor, que disse ter sido agredido, vítima de agressão física e moral pelo fato de ser homossexual.

Como é sabido, o menor estava com um grupo de amigos no evento e foram agredidos, porém, os próprios confessaram após a repercursão em grande massa nas redes sociais, rádios e afins que estavam realmente cometendo atos de vandalismo no camarote do evento, e sendo assim o suposto agressor os alertou de uma provável expulsão do local caso não cessassem a baderna. O que poucos sabem é que não existiu nenhum ato de homofobia contra o grupo e que o suposto agressor na verdade foi o agredido . O grupo insatisfeito com o alerta proferiu atos obscenos para o suposto agressor, causando a indignação do mesmo.

O menor inventou isso para que assim fosse feita justiça, nas palavras do próprio “só assim ele pagaria pelo o que ele fizeram com a sua cara”. O grupo compactuou com versão de homofobia, dizendo manter essa alegação na delegacia e onde fosse necessário, justificando esse ato de inconsequência, ou seja, essa mentira com a indignação que sentiram ao ver o amigo menor naquele estado.

Venho por meio das redes sociais (como tudo começou) tentar me redimir quanto ao ato precipitado. Quis ajudar uma pessoa que pensei ser meu amigo e acabei prejudicando uma pessoa inocente. Isso me serviu como aprendizado e espero encarecidamente que a mesma repercussão da justiça em prol de uma mentira seja feita, agora, em prol de uma verdade e que sirva de exemplo: Antes de se tomar uma atitude num caso como esse, investigar as duas versões da história”.

Procurei entrar em contato com o menor, que me cedeu entrevista por telefone na tarde de ontem, mas ele não atende os telefones e excluiu seu perfil no Facebook.

Aos leitores do Blog, peço a compreensão. As vezes, nossas fontes mentem, e só nos resta a retratação ante ao acontecido.

 

***

 

Quatro jovens, entre eles um menor de idade, foram espancados por três homens em uma festa no interior da Paraíba, no noite deste domingo (27). O evento, um carnaval fora de época chamado Micaranha, acontece anualmente em São José de Piranhas, no Sertão Paraibano, foi o pano de fundo para mais uma agressão violenta a homossexuais.

De acordo com o menor agredido, Pedro* , de 16 anos, ele e mais quatro amigos, dois rapazes (de 19 e 20 anos) e duas garotas (18 e 22 anos), todos homossexuais, estavam em um dos camarotes da festa, quando um grupo de três homens passou e começou a proferir ofensas homofóbicas. “Estávamos apenas bebendo e nos divertindo quando as ofensas começaram, nem abraçados estávamos”, diz o jovem.

Como defesa, eles começaram a vaiar os agressores. Um dos homens, de 30 anos, voltou para o camarote e começou a agredir o jovem de 19 anos. Pedro* partiu em defesa do amigo e também acabou agredido. “Nem as meninas escaparam e também foram agredidas”, conta.

Além do homem, outros dois também participaram das agressões, e fugiram logo em seguida. Segundo o menor, a polícia estava no local e nada fez para interromper as agressões. “Nem levar a gente na delegacia eles quiseram, tivemos que ir sozinhos”, relembra. Ele diz ainda que tiveram de enfrentar o descaso das autoridades diante do fato, já que, na delegacia, um policial teria dito a eles que ‘o caso não iria dar em nada’.

Segundo Pedro* , seus pais sabem de sua orientação sexual e lidam bem com a situação. Na escola e entre seus amigos, ele diz que nunca sofreu nenhuma discriminação, mesmo morando em uma cidade do interior da Paraíba. “Nunca tinha sido xingado, nem agredido. Mas não estou com medo, não acredito que isso vá acontecer novamente”. Ele e os amigos devem procurar a delegacia nesta segunda-feira (28) para prestar queixa contra os agressores.

*Nome fictício

Pré-candidatura de Renan Palmeira recebe o apoio do deputado Jean Wyllys

A pré-candidatura de Renan Palmeira (PSOL-PB) a prefeito de João Pessoa (PB) ganhará um reforço de peso nesta quinta-feira: em entrevista coletiva, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), oficializa seu apoio a pré-candidatura de Palmeira. A coletiva acontece nesta quinta (19), às 17h, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Paraíba (SINTEP-PB), na Rua Professor José Coelho, 61, no Centro de João Pessoa.

De acordo com um dos coordenadores da pré-campanha, Tárcio Teixeira, o PSOL pretende eleger prefeitos e vereadores em diversas capitais do país e consolidar-se como uma esquerda socialista. “João Pessoa agora tem alternativa nas eleições e nas lutas sociais, para fortalecer essa alternativa contamos com a presença de Jean Wyllys na capital paraibana”, disse Tárcio. Nos próximos meses, estão outras agendadas visitas de apoio a pré-candidatura de Renan Palmeira, incluindo a ex-senadora e vereadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP).

“Precisamos de Leis específicas LGBT”, diz primeiro candidato assumidamente gay de Alagoas

 

Depois de João Pessoa tornar-se a primeira capital do Brasil com um candidato a prefeito assumidamente homossexual, Maceió, a capital do estado de Alagoas também terá um marco nas eleições para prefeito deste ano. Dino Alves, militante LGBT e assumidamente homossexual, será o primeiro candidato a vereador da capital alagoana. Dino é Consultor de Projetos Sociais, foi Diretor Geral da ONG Pró-Vida e do Grupo Gay de Alagoas – GGAL, onde desenvolve trabalhos voluntários e atualmente é Assessor Técnico da Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos de Alagoas, que tem a frente Kátia Born, ex-prefeita de Maceió e Presidente do PSB no Estado. Em entrevista exclusiva, Dino fala sobre a homofobia em seu estado e sobre a importância das candidaturas LGBT.

 

Você é o primeiro candidato assumidamente gay em Alagoas. Como você encara esta responsabilidade?

Dino – Na verdade existiram outros candidatos e eleitos que vivencia sua sexualidade entre LGBT, porém eu sou o primeiro que não tive medo de assumir minha orientação sexual publicamente. Encaro e fiz isso por entender que a minha sexualidade não interfere no meu caráter e não afeta a minha dignidade. Acredito que posso legislar em defesa de todas as populações, inclusive na promoção da cidadania e na garantia dos direitos da população de LGBT.

 

Como foi o processo de escolha da sua candidatura dentro do PSB?

Dino – As convenções ainda não oram realizadas e respeitando o calendário eleitoral serão no período de 10 a 30 de junho, por isso ainda sou Pré-Candidato. Porém, internamente o PSB tem me acolhido e manifestado total interesse em homologar minha candidatura durante a convenção. No PSB de Alagoas estou Secretário da Executiva Estadual LGBT e no Brasil estou Coordenador de Mobilização Política da Secretaria Nacional LGBT Socialista.

 

Sua candidatura, assim como a e Renan Palmeiras a prefeitura de João Pessoa são marcos na política do nordeste, região conhecida pelo forte preconceito em relação a homossexuais. Você acredita que haverá ataques pessoais a sua campanha? Como você pretende lidar com eles?

Dino – Sim, sem duvidas. Vou responder a todos os ataques com muito respeito.

 

 

Como você avalia a situação dos LGBT no estado de Alagoas e em Maceió em relação a homofobia?

Dino – A homofobia é um fenômeno crescente em todo o Brasil! E só poderemos enfrentar com educação, prevenção da violência, e criminalizando a homofobia. Em Alagoas os dados de assassinatos de LGBT são alarmantes, embora haja um grande esforço do Estado para combater os crimes, ainda é preciso fazer muito mais. Especificamente em Maceió, precisamos de Leis específicas LGBT e regulamentar as exigentes.

 

Hoje, faltam representantes que lutem pelos diretos LGBT nos três níveis (município, estado e país). Você acha que a solução para isso é que os LGBT se engajem politicamente, disputando e sendo eleitos para cargos públicos?

Dino – Sim, precisamos Legislar. Leis garantem direitos e é disso que precisamos: direitos iguais.

Presidente da Diversidade do PSDB: “Dilma assinou compromisso com fundamentalistas evangélicos, enquanto o Serra, não”

Em uma época onde os direitos LGBT são rifados pelo Governo Federal e por acordos políticos da Presidente Dilma Rousseff com a bancada evangélica no Congresso, grupos políticos de oposição se mobilizam para dar visibilidade as reivindicações e aos direitos dos homossexuais. Entre os partidos considerados conservadores, normalmente mais resistentes as lutas dos movimentos sociais, o PSDB e sua Diversidade Tucana (DT) se destacam como voz solitária mais a direita do espectro político brasileiro.

O PSDB registra grupos de luta pelos direitos dos homossexuais desde 1994, mas um coletivo político LGBT só foi estabelecido oficialmente em 2006. De concreto, o tem o vereador de Piracicaba (SP), Bruno Prata, e já tem pré-candidatos a vereador em Piracicaba, Goiânia, Belém e em São Paulo, além de defensores dos direitos LGBT candidatos a prefeito e vice-prefeito em todo o Brasil, de acordo com a própria DT.

Hoje, o grupo é presidido por Marcos Fernandes, formado em filosofia, e hoje assessor parlamentar da Secretaria da Fazenda de SP. Ele já foi chefe de gabinete da Secretaria de Participação e Parceria e assessor da bancada do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo. Em entrevista exclusiva ao Blog do De Lucca, Marcos falou sobre o governo Dilma e a avaliação tucana sobre a situação dos homossexuais no Brasil atualmente.

Como surgiu a Diversidade Tucana? Como ela atua hoje em dia, como esta organizada?

Marcos – A Diversidade Tucana foi oficialmente criado em 2006, mas já havia no PSDB, pelo menos desde 1994, grupos de LGBT que atuavam nas campanhas eleitorais, especialmente nas elaborações de planos de governo. Muitas das ações do PSDB no tema da diversidade sexual aconteceram antes de existir o Diversidade Tucana, até que essas pessoas começaram a perceber que era hora de uma atuação mais orgânica, mais permanente. Nos últimos anos passamos a focar nossa atuação dentro do partido e isso tem nos levado a bons resultados. Há alguns dias, por exemplo, eu estive em Belém do Pará, na cerimônia de oficialização da criação do Diversidade Tucana estadual e municipal lá, com presença e apoio de grandes lideranças do PSDB paraense, e a chancela do governador Simão Jatene, que faz um governo que promove a cidadania LGBT e combate a discriminação.

O PSDB ainda pode ser considerado um partido conservador?

Marcos – O PSDB nunca foi conservador e nem de direita. Isso é coisa que alguns militantes falam como tentativa de desqualificar, na hora do embate político-eleitoral. Eu acho uma bobagem, porque ser progressista ou conservador não é um simples rótulo que alguém te coloca e pronto, são adjetivos que devem espelhar as suas ações. O PSDB foi pioneiro no Brasil em termos de políticas sociais mais avançadas. Até o governo Fernando Henrique Cardoso, o que se tinha no Brasil eram aquelas distribuições de cestas básicas, imensas campanhas de arrecadação de donativos para serem transportados até as regiões mais pobres do país, a distribuição era uma prerrogativa dos políticos locais, que usavam isso a seu favor. Era essa a grande força do coronelismo. No governo FHC foram criados os programas de transferência de renda, como a Bolsa-Escola, que depois foram unificados e viraram o Bolsa Família. A estabilização econômica, com o fim da inflação, também aumentou muito o poder de compra dos trabalhadores. Isso sem falar nos grandes saltos tecnológicos que proporcionaram a democratização de alguns serviços que antes só os ricos tinham acesso, como na área de telefonia, e nas políticas de Direitos Humanos e de Saúde, que foram as mais progressistas que já tivemos no Brasil até hoje.

Como se dá a articulação dentro do partido, que tem em seus quadros muitos conservadores? O Partido ‘abraça’ a diversidade?

Marcos – Em seus governos, o PSDB sempre “abraçou” a diversidade, desde o governo Montoro em São Paulo, em 1983. A primeira campanha de Saúde voltada para gays e o primeiro Plano de Direitos Humanos que incluiu LGBT foram no governo FHC. O primeiro órgão de governo específico para a questão da diversidade sexual foi criado pelo Serra, em 2005, quando prefeito de São Paulo. Como governador ele criou uma coordenadoria estadual semelhante, e o primeiro ambulatório de saúde voltado para travestis e transexuais do Brasil. Temos muitas outras ações como essas em muitos governos do PSDB: delegacias contra intolerância, centros de referência, conselhos LGBT, dispositivos legais, campanhas anti-homofobia, etc. O PSDB tem em seus quadros algumas pessoas que preferem atuar na contramão disso, como em todos os partidos hoje em dia, esse é um movimento que infelizmente vem crescendo muito no Brasil. Mas felizmente no PSDB essas são as exceções. Os grandes líderes do PSDB têm todos muito o que mostrar quando se fala em cidadania LGBT.

Qual a autonomia da DT para se manifestar em relação as suas posições? Qual a força do movimento dentro do partido?

Marcos – Temos total autonomia e o partido reconhece nossa atuação como algo positivo, nunca nos colocou empecilhos, pelo contrário. Temos recebido apoio de várias lideranças para fazer nosso trabalho, que muitas vezes também é interno, de estimular o debate, levar informações que às vezes alguns membros ainda não têm. Esse trabalho é dinâmico, e tem crescido muito exatamente porque contamos com o apoio institucional do partido.

Como a DT está trabalhando para as eleições 2012? Serão quantos candidatos da Diversidade do PSDB?

Marcos – A principal tarefa será preparar os Planos de Governo referentes a programas e projetos para a população LGBT e faremos um trabalho também com os candidatos a Vereador.

Como você avalia o trabalho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em relação as políticas LGBT? Quais foram os avanços que tivemos durante seus oito anos de mandato?

Marcos – Em muitas áreas o governo FHC implantou políticas pioneiras, que abriram as portas para diversas conquistas do povo brasileiro. Na questão LGBT não foi diferente. Para você ter ideia, antes do Fernando Henrique nenhum presidente brasileiro tinha sequer falado a palavra “homossexual” em público. Ele lançou o primeiro Plano Nacional de Direitos Humanos que contemplava LGBT. Foi uma mudança de paradigma porque até aquele momento a questão LGBT no Brasil se limitava à área da Saúde, especialmente na questão do HIV/Aids, e a partir daquele documento o governo brasileiro passou a reconhecer que o respeito à orientação sexual das pessoas era uma questão de direitos humanos. Durante o governo FHC também tivemos o programa de combate à Aids considerado pela ONU o melhor do mundo. E ele deu certo porque o então ministro José Serra teve a capacidade de enxergar e reconhecer a atuação das organizações do movimento LGBT brasileiro e fazer parcerias com elas para que a prevenção e o tratamento realmente chegassem às pessoas que precisavam. Essas duas mudanças de olhar sobre a população LGBT mudaram toda a nossa história de lá para cá.

E em relação ao Governo Lula? Você viu no governo do petista mais avanços do que no governo tucano?

Marcos – Durante o governo Lula nós tivemos, infelizmente, uma estagnação. Começou mantendo o ritmo que vinha do governo FHC até lançar o programa Brasil Sem Homofobia, em 2004, que era um programa bastante avançado, que nos deu muitas esperanças. O problema é que não saiu do papel, e o pouco que foi executado hoje já não existe mais. Depois, só nos últimos anos de mandato, o presidente Lula convocou a Conferência Nacional LGBT, cujos resultados práticos também foram pífios; implantou um conselho LGBT em que os membros são indicados e, com isso, quase todos são ligados ao PT; e criou uma coordenação LGBT, ao contrário de outros segmentos como mulheres e negros, que têm secretarias especiais ligadas diretamente à Presidência da República, com status de ministério. Ou seja, esperávamos muito mais do Governo Lula, até pela atuação que o PT costumava ter no Legislativo em relação a LGBT. No fim, os maiores opositores de projetos como o PLC 122 eram da base aliada do Governo Lula e ele nunca usou sua influência política para fazer o projeto andar e ser aprovado. Não fomos tratados como assunto importante.

A Presidente Dilma está sendo duramente criticada pelo Movimento LGBT por sua aproximação com a bancada evangélica e com fundamentalistas religiosos como Marcelo Crivella e Magno Malta. Como você vê esta relação de Dilma com os evangélicos?

Marcos – Nós precisamos fazer uma diferenciação: uma coisa é estar próximo e ouvir de forma republicana todas as forças políticas que representam setores da sociedade; outra coisa é virar as costas para uma população de quase 20 milhões de brasileiros e barrar políticas públicas importantes para essas pessoas em nome de negociatas com uma força política específica. Esse é o problema da presidente Dilma: ela barrou o kit anti-homofobia em uma negociação com a bancada evangélica para tentar salvar o então ministro Antonio Palocci, que na época estava sob investigação; depois deu declarações que reforçavam estigmas e preconceitos, dizendo que o kit fazia “propaganda de opções sexuais” (sic); barrou uma campanha de prevenção ao HIV/Aids volta da especificamente para homens gays, coisa que dez anos antes o governo FHC já havia feito. E em meio a tudo isso, ela jamais recebeu representantes do Movimento LGBT desde que tomou posse, nem mesmo as organizações e lideranças mais ligadas ao PT. Ou seja, a presidente Dilma escolheu não levar em consideração essa população. Se durante o Governo Lula os avanços nessa área desaceleraram, agora no governo Dilma estamos andando para trás.

Durante a campanha eleitoral de 2010, Serra também se mostrou bastante próximo aos evangélicos, usando o mesmo discurso sobre o aborto e negando-se a falar sobre direitos dos LGBT, angariando inclusive o apoio do pastor Silas Malafaia. Como você acha que teria sido esta relação entre Serra e os evangélicos, caso ele tivesse sido eleito?

Marcos – As pessoas às vezes tentam colocar posturas completamente diferentes no mesmo saco, para confundir mesmo. Veja as diferenças: o Serra sempre foi contra o aborto, é uma posição pessoal dele, enquanto a Dilma disse em uma entrevista ser a favor e durante a eleição disse ser contra. O que o Serra estava criticando não era o fato de ela ser a favor do aborto, mas de ter mudado de posição apenas para a eleição. Você pode ir atrás de uma sabatina do Portal R7, ligado à Rede Record, em que o Serra disse com todas as letras ser a favor do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Ele recebeu o apoio do Silas Malafaia, mas era o Malafaia quem estava apoiando as ideias dele, e não o contrário. O Serra não fez como a Dilma, que assinou compromisso com fundamentalistas evangélicos de não mexer em uma série de questões, entre elas as questões LGBT. E o mais importante: o Serra tem história, a gente podia olhar para trás e ver o que ele tinha feito, quais tinham sido as posturas dele. Quando foi governador de São Paulo, ele teve deputados evangélicos na sua base aliada, mas quando um deles apresentou um projeto de lei para revogar a lei estadual anti-homofobia, um representante da Secretaria da Justiça foi à Assembleia Legislativa dizer que se aquele projeto fosse aprovado o governador vetaria o projeto. Ou seja, o Serra é uma pessoa que governa para todos e não deixa um segmento da população tentar impor derrotas e retrocessos a outros.

Você acredita que o debate de evangélicos contra não-evangélicos será a tônica das próximas eleições presidenciais? Como você acha que o PSDB vai se posicionar em relação a isso?

Marcos – O Brasil não vai bem. Nós tivemos um ganho de poder de compra de parcela importante da população e um momento econômico muito feliz, mas nada disso se reverteu em mais qualidade na educação, saúde, saneamento básico, cultura, transparência e ética no serviço público. Tivemos nos últimos anos um país que cresceu em PIB (Produto Interno Bruto) e não cresceu em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). E hoje já vemos o endividamento da população crescer a patamares alarmantes e a atividade industrial enfrenta seu sexto mês seguido de queda. Portanto, quem simplificar o debate das próximas eleições presidenciais a questões tão desimportantes quanto essa é porque não tem soluções a apresentar. O PSDB certamente não entrará nisso.

Muita gente critica a dicotomia política entre PSDB e PT. Você acha que há outros partidos que possam quebrar a hegemonia política de tucanos e petistas, ou os dois partidos se consolidarão cada vez mais como os dois maiores do Brasil?

Marcos – A polaridade entre duas forças políticas é algo natural com a consolidação das instituições democráticas. No mundo todo é assim, e o Brasil também caminha nesse sentido. O problema do Brasil não é a polarização entre PT e PSDB, mas sim os chamados “partidos de aluguel”, que são pequenos partidos que trocam seu apoio de forma fisiológica. A sociedade brasileira precisa se conscientizar da necessidade de uma reforma política profunda para que a qualidade da nossa representação política aumente. Dispositivos como o voto distrital ou distrital misto são fundamentais para isso.

Como o PSDB e sua Diversidade se posicionam em relação ao kit contra a homofobia (vetado no Governo Dilma), a PLC 122 (barrada no congresso) e o Casamento Gay (cujo projeto não avança por pressão dos evangélicos)?

Marcos – O kit anti-homofobia é, em primeiro lugar, um material de qualidade discutível. Mas o problema é que não houve um diálogo amplo com a sociedade para a sua apresentação. Nem mesmo o Movimento LGBT foi incluído de forma mais ampla nessa discussão. Ninguém pode querer abordar um tema polêmico como esse, que mexe com a moralidade e até a religiosidade de cada família, sem fazer um trabalho de conscientização da necessidade desse material junto às comunidades escolares. Quando os grupos fundamentalistas apresentaram vídeos falsos, dizendo que o kit trazia filmes eróticos para as crianças assistirem, a sociedade acreditou porque o Ministério da Educação foi incompetente em trabalhar a entrada desse material. Essa mesma central de boatos e falsos argumentos cerca o PLC 122 e mesmo nós às vezes temos dificuldade em informar os parlamentares do PSDB sobre esse tema, tamanha a organização dos grupos contrários ao projeto. A ABGLT recebeu durante alguns anos recursos para um projeto chamado Aliadas, que era de conscientização dos parlamentares sobre as questões mais importantes para LGBT. Esse trabalho não alcançou resultado esperado. No Congresso Nacional predominam os argumentos dos religiosos fundamentalistas. É um trabalho de informação e convencimento bastante minucioso que precisa ser feito, e o Diversidade Tucana está trabalhando para que o máximo de parlamentares do PSDB se convençam da necessidade da aprovação desse projeto. Sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, temos em governos do PSDB diversas iniciativas de reconhecimento de uniões homoafetivas em questões previdenciárias, por exemplo, e casos como do senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin que comemoraram publicamente a decisão do STF em reconhecer essas uniões.

Como o movimento LGBT do PSDB lida com a opressão a outros movimentos sociais dentro do seu próprio partido? Pergunta de Danilo Motta, jornalista, Rio de Janeiro (RJ)

Marcos – Não há opressão a qualquer movimento social dentro do PSDB.

O que PSDB tem como proposta pra coibir os inúmeros casos de violência contra homossexuais no Brasil? Pergunta de Gilson Alves Rosa, Gerente Administrativo, Vitoria (ES)

Marcos – O modelo tucano de governar na questão LGBT tem sido de duas mãos: por um lado a promoção da cidadania LGBT por meio de manifestações culturais, avanços na questão do atendimento no serviço público, especialmente na área da saúde, acolhimento de pessoas LGBT em situação de vulnerabilidade social, qualificação profissional, espaços de diálogo com o poder público, etc; por outro lado o combate à homofobia através do aumento dos canais recebedores de denúncias, delegacias especializadas em crimes de intolerância e melhoria dos instrumentos legais, onde há.

Qual seu posicionamento sobre outras questões “polêmicas” dentro do partido, como cotas raciais, aborto e estado laico? Pergunta de Cauê Madeira, Designer, São Paulo (SP)

Essas não são questões polêmicas dentro do PSDB apenas, são questões polêmicas junto a toda a sociedade brasileira. Minha opinião sobre as cotas raciais é de que são positivas, mas não podem ser a única política pública para tratar da desigualdade racial no Brasil. Se não houver um olhar de longo prazo, que passe pela educação, qualificação profissional, moradia, entre tantas outras questões, nós continuaremos precisando desse tipo de “atalho” por tempo indeterminado. Sobre o aborto, eu não me sinto qualificado para ter uma posição, sendo homem. Essa é uma questão do universo feminino e as mulheres precisam ser empoderadas como protagonistas desse debate. Também é um tema que sofre com o obscurantismo de grupos que não querem sequer que a questão seja debatida, o que eu acho uma pena. O que penso ser realmente importante é entendermos que o aborto, mesmo sendo ilegal, existe. Milhares de mulheres realizam abortos todos os anos, muitas de forma totalmente inadequada. Essas mulheres precisam ser atendidas como cidadãs de forma digna. Isso me parece mais urgente. E sobre o Estado laico, não há o que discutir: o Estado é laico e deve continuar sendo laico.

Como a DT tem trabalhado a relação com a Bancada Evangélica do próprio partido?

Marcos – Hoje todos os partidos brasileiros têm representantes evangélicos. Pouca gente sabe, por exemplo, que o PT tem apenas um parlamentar a menos que o PSDB na bancada evangélica. Quem faz parte de um partido político entende que são normais e até saudáveis algumas divergências internas, e nós procuramos atuar pela via da informação, com respeito a todas as linhas de pensamentos que existem no PSDB sobre todos os tipos de tema. Nunca deixamos de nos posicionar sobre as questões relativas à cidadania LGBT, e por isso algumas vezes a relação é de conflito, mas nunca houve qualquer situação de desrespeito, perseguição ou obstrução de trabalhos.

O deputado federal tucano João Campos (PSDB-GO) é autor de projeto de lei para permitir que homossexuais possam ser ‘tratados’ por psicólogos, num projeto que ficou conhecido como ‘projeto da cura gay’. Esta posição de João Campos é a posição oficial do PSDB?

Marcos – Esse projeto é uma aberração, despropositado e não conta com apoio do partido.

O Movimento LGBT carece de força política, inclusive com representação de LGBT no Congresso e Assembleias Estaduais. Como resolver este problema?

Marcos – O movimento está muito partidarizado e isso compromete sua atuação como movimento social, é importante ter os grupos LGBT nos partidos, mas o movimento social não deve ser partidarizado.

Outra crítica recorrente é da falta de bases sociais do Movimento LGBT. Como você acha que este problema poderia ser resolvido?

Marcos – De uma forma geral, o Movimento LGBT precisa se voltar mais à população LGBT em si. Quando vemos, por exemplo, a ABGLT e o Conselho Nacional LGBT titubear frente aos vetos da presidente Dilma a políticas públicas voltadas à nossa população, como podemos esperar que as pessoas se sentissem representadas por esse movimento? O Movimento LGBT precisa defender os interesses da população LGBT acima de qualquer proximidade partidária ou interesse particular. Esse princípio básico não tem sido observado por muitas das nossas principais organizações e lideranças. Pode ver nas redes sociais e manifestações públicas como ainda tem militante LGBT tentando contemporizar as posturas anti-LGBT da presidente Dilma, falando que ela é “refém” de forças conservadoras, como se ela fosse vítima dos fatos e não protagonista deles.

Serra ou Aécio Neves? Qual dos dois tem mais proximidade com a Diversidade Tucana e com os direitos dos LGBT?

Marcos – A hora de se fazer esse debate não é agora. Tanto Serra quanto Aécio têm posturas e ações para mostrar à população LGBT, bem como Geraldo Alckmin, Simão Jatene, Teotônio Vilela, Beto Richa, Marconi Perilo enfim, o PSDB tem muitos nomes qualificados a apresentar para a população brasileira e o Diversidade Tucana tem a maior satisfação de dizer que podemos carregar a bandeira de qualquer um deles pois será sem dúvidas uma bandeira de respeito à população LGBT e de repúdio a qualquer forma de preconceito.

 

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Atualização (25/03/12)

Giovanni Viero, de Curitiba, me mandou link de matéria onde Serra teria dito que vetaria a PLC 122:

Em convenção da Assembléia de Deus, José Serra afirma que vetará a PLC 122 caso seja eleito

 

O medo é nosso, e não dos evangélicos, Marco Feliciano

O exagero dos deputados da Bancada Evangélica chega a ser engraçado, para não dizer ridículo, ante as demandas dos homoafetivos. Nesta semana, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) disse, em artigo publicado em seu site:

“Tal grupo (os homossexuais) representa uma minoria, não destas que sofrem de verdade, mas que sob uma camuflagem de perseguição, tenta e consegue impor seu modo de vida promíscuo, seus pensamentos anti-família e anti-bons-costumes (…) O que virá a seguir? Que Deus nos ajude! E nos ajude logo, antes que, esses fascistas, expulsem de uma vez Deus da nação brasileira, como buscam exterminar programações religiosas na TV”

Vou ignorar as falhas na argumentação do deputado, que normalmente carecem de ligação com a lógica e com os fatos. Vou ignorar que o Brasil é o líder do ranking mundial de mortes de homossexuais em crimes violentos e de natureza homofobia, e que esta discriminação é apenas a ponta de um iceberg de crimes de preconceito e de intolerância que não chegam à luz da justiça. Vou ignorar também o conceito de família do deputado (que também foi ignorado pelo STF ao aprovar a união homoafetiva) e de muitos fundamentalistas que se esquecem de atualizar seus conceitos morais para a atualidade, e que querem privar outros de fazê-lo. Vou ainda fazer vista grossa a utilização indevida do termo ‘fascista’ referindo-se a homossexuais, visto que os fascistas (com a conivência da grande maioria de instituições religiosas) mataram milhares de homossexuais durante a segunda guerra mundial (e ainda hoje), e seu espólio filosófico ainda inspira matadores de gays pelo Brasil.

Vou me ater apenas ao ponto central da argumentação de Feliciano: o medo de que os ‘homossexuais expulsem deus (e seus seguidores) do Brasil. A liberdade religiosa é uma clausula pétrea da Constituição Federal, que no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.

Mesmo que um presidente homossexual (outro além da egodistônica Dilma Rousseff) assuma o poder, as liberdades religiosas estão garantidas. Mesmo porque, em nenhum momento, em nenhuma declaração pública, nenhum homossexual (que eu tenha registro) falou contra as liberdades religiosas, não importando a crença ou denominação. O problema é que muitas destas denominações não querem apenas viver suas ideologias, mas as impor sobre toda a sociedade, de forma autoritária e (aí sim) fascista. Não compete ao Estado ou a Constituição versar sobre o que é pecado e sobre os conceitos infundados de família que A ou B tenham criado, mas garantir os direitos humanos a todos, independente de crença, baseados na liberdade individual e no que há de mais moderno no mundo em relação a estes direitos.

Agora, os direitos dos homossexuais (inclusive de existir ou de morar no Brasil) podem ser ameaçados se um grupo fundamentalista assumir o poder. O medo tem de ser nosso e não dos evangélicos. O que garante que um presidente evangélico não possa ‘proibir relações entre pessoas do mesmo sexo’? O que garante que uma maioria absoluta no congresso não torne homossexualidade uma doença e o tratamento compulsório? Mesmo sem maioria, eles já querem fazer tal absurdo, através do projeto de lei do Deputado Federal João Campos (PSDB-GO), usando truques de lingüística simplistas chamando a cura de ‘tratamento’, sem buscar no dicionário o significado de ‘tratamento’.

O que nos garante que teremos direitos assegurados com uma maioria de fundamentalistas no poder, se hoje já não temos direitos respeitados? Como esperar que a discriminação contra LGBTs cesse, se não ensinarmos as gerações futuras a beleza da diversidade entre as pessoas? Sem a aprovação de um projeto que torne obrigatório o ensino de orientação sexual e identidade de gênero nas escolas públicas e particulares, obviamente adequadas a realidade pedagógica de cada jovem, nunca sairemos deste ciclo vicioso de homofobia e preconceito.

Como seus pensamentos em looping, os fundamentalistas querem que a existência dos homossexuais seja miserável, para poder então ‘curá-los’, aumentar seus rebanhos, e consequentemente seus lucros. Os LGTB seriam sempre discriminados por terem seus direitos (inclusive a vida) negados por pessoas que não aceitam a diversidade. E estas pessoas não aceitam ou compreendem a diversidade porque não forem EDUCADAS para tal, pois nem em casa ou escola ensinam isso.

A falta de coerência nos argumentos do Deputado Marcos Feliciano é aterradora, e a forma como ele tenta manipular as massas que o seguem também. O medo de perder direitos civis, de perder a dignidade, de perder o emprego, de perder o abrigo em casa, de perder os amigos, a família, de perder dentes, de ter ossos quebrados, de perder a vida em um beco de uma cidade qualquer, é NOSSO, deputado. Porque este medo real, e não hipotético, já faz parte do cotidiano de todos os gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais brasileiros.

10 motivos para NÃO aprovar o casamento gay no Brasil

Este post havia sido postado originalmente para meu antigo blog coletivo, o Pega No Meu, mas agora, reposto o mesmo aqui pra vocês.

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Este texto foi publicado várias vezes, em diversos fóruns sobre respeito a diversidade sexual, em inglês, e sem autoria. Achei que ele merecia ser lido em português, afinal, essa pouca vergonha de casamento gay realmente não faz sentido.

1. Ser gay não é natural. Brasileiros de verdade sempre rejeitam as coisas artificiais, como lentes de contato, poliéster e ar condicionado.

2. O casamento gay vai encorajar pessoas a serem gays, da mesma forma que sair com pessoas altas vai fazer você ficar mais alto.

3. Legalizar o casamento gay vai abrir um precedente pra todo o tipo de comportamento maluco. As pessoas podem até querer casar com seus bichos de estimação.

4. O casamento hetero esteve aí este tempo todo e nunca mudou: mulheres continuam sendo propriedade dos homens, negros não podem casar com brancos e o divórcio continua ilegal.

5. O casamento hetero perderia o sentido se o casamento gay fosse permitido. O sacramento do casamento só de zoação de 55 horas da Britney Spears seria destruído.

6. Casamentos heteros são validos porque produzem crianças. Casais gays, pessoas inférteis e pessoas velhas não devem ter o casamento permitido, porque nossos orfanatos não estão cheios o suficiente, e o mundo precisa de mais crianças.

7. Obviamente pais gays só criam filhos gays, assim como casais heteros só criam filhos heteros.

8. O casamento gay não tem o apoio dos religiosos. Numa teocracia que nós vivemos, os valores de uma única religião têm que ser impostos sobre todas as pessoas do país inteiro. É por isso que temos apenas uma religião no Brasil.

9. Crianças nunca podem ter sucesso sem o papel de um modelo de homem e mulher em casa. É por isso que na nossa sociedade é estritamente proibido pais ou mães solteiros criarem crianças sozinhas.

10. O casamento gay vai mudar os fundamentos da sociedade; nós nunca poderemos nos adaptar a novas normas sociais. Assim como nós não nos adaptamos aos carros, ao terceiro setor, vidas mais longas e a internet.

A lista de motivos deve ser maior, pessoal! Postem novos motivos nos comentários que eu vou adicionando no post!

O divino direito de falar merda (ou Porque religiosos não entendem nada sobre gays)

O que se pede de um grupo de pessoas que participa de um debate? Quando é descompromissado, um debate pode envolver qualquer pessoa, de qualquer formação ou grau de instrução. Aquele bate-papo de bar, de ponto de ônibus, onde cada um fala o que quer, sem o compromisso nenhum com a veracidade ou a coerência dos argumentos. Mas, o que se pede em um debate técnico, científico?

De acordo com o e zoólogo, etnólogo e evolucionista inglês, Richard Dawkins, nossa sociedade se acostumou, de maneira muito cordial, com que as visões religiosas teriam algum direito automático e indiscutível a uma posição respeitável.

“Se eu quiser que alguém respeite meus pontos de vista sobre política, ciência e arte, terei que conquistar esse respeito por meio da argumentação, da justificação, da eloqüência ou do conhecimento relevante, (…) Porque não há limites para as opiniões religiosas? Por que nós temos que respeitá-las pela simples razão de que elas são religiosas?”, questiona o cientista.

A questão é muito relevante para o atual momento brasileiro. Por que pastores, padres e outros religiosos têm suas opiniões (ou dogmas) religiosas e validadas em áreas como psicologia, psiquiatria, sociologia e direito? Por que eles têm o direito (arduamente conquistado por outros) de debater em temas como direito dos homossexuais, casamento gay, leis contra a homofobia, se eles não tem os conhecimentos exigidos para discutir sobre os assuntos?

Em relação à homossexualidade, as opiniões de religiosos são especialmente levadas a sério. Pastores oferecem ‘curas e conversões’ de orientação sexual, mesmo que a psicologia e a psiquiatria garantam (com embasamento científico) de que orientação sexual é um processo complexo e não é passível de alteração. A Organização Mundial de Saúde, os conselhos federais de Medicina e de Psicologia, além de outras diversas entidades, proíbem tratamentos para mudança de orientação sexual, por não existir NENHUM indício em relação da eficácia dos mesmos, e que eles podem causar danos psicológicos severos.

Por que pastores, padres e outros religiosos têm de participar de mesas redondas, debates e comissões legislativas sobre casamento e união civil entre pessoas do mesmo sexo, se o único argumento e conhecimento para negar estes direitos são bíblicos e teológicos. Se as igrejas não são a favor a uniões entre gays, simplesmente não as celebrem, já que cada religião tem o direito de seguir os dogmas que achem mais convenientes. Mas a crença nestes dogmas não torna um religioso mais competente para discutir direitos constitucionais do que um pedreiro, um mecânico ou um engenheiro químico.

Em um país onde o fundamentalismo e o proselitismo religioso crescem assustadoramente e se enraízam nos espaços de poder, este tipo de intervenção (ignorante, no meu ponto de vista) será cada vez mais freqüente, e precisa ser cada vez mais combatido. O direito das religiões termina quando começam os direitos humanos, e ninguém tem o direito de interferir na vida de outrem por conta de seus preceitos religiosos. A discussão teológica sobre homossexualidade e os direitos dos homossexuais são válidos, mas devem ser considerados APENAS no âmbito teológico, e não, no âmbito legal e político. Afinal, o Irã (graças a deus), é bem longe daqui.