Diversidade, em todos os sentidos

Na tentativa desesperada de alguns detratores dos direitos LGBT em desqualificar toda uma gama de pessoas que tem em comum apenas seus afetos dissonantes da sociedade heteronormativa, vale qualquer arma. Alguns preferem a velha e boa torção de declarações alheias, como dizer que um deputado ‘fere o estado laico’, ao dizer, em entrevista, que foi eleito pelos Orixás. Outros usam a mentira mesmo, atribuindo declarações que nunca foram feitas, criando pretensões nunca aspiradas pelos movimentos sociais e fazendo leituras tortas dos artigos de leis que garantem a cidadania de minorias. Mas uma categoria bem específica de homofóbico é o que tenta atribuir a homossexualidade características, delitos e estereótipos que em nada tem a ver com a sexualidade em si.

Durante este semana, alguns perfis conhecidos de fundamentalistas religiosos nas redes sociais fizeram um esforço para tentar ligar a orientação sexual de um casal gay ao fato deste casal ter agredido e torturado o filho adotivo, de cinco anos. Exceto em casos de agressão motivada por orientação sexual ou identidade de gênero, nenhuma destas características é relevante para o contexto de matérias jornalísticas, e é neste ponto que grande parte da imprensa colabora com o reforço de estereótipos negativos de homossexuais.

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Ora, o que a orientação sexual do casal colabora no contexto da reportagem? O mesmo tipo de agressão e violência doméstica contra crianças não acontece com casais heteros cotidianamente? Dizer que o casal adotivo da criança tem alguma outra função no texto, além de tentar reforçar os estereótipos de que casais homossexuais são menos capazes de criar crianças do que casais heterossexuais? Se tivesse, outras centenas de matérias sobre abuso sexual ou violência contra crianças também deveria deixar claro, no título, que os agressores tratam-se de heterossexuais.

Munidos de matérias que enfatizam a orientação sexual de agressores de crianças, homofóbicos de toda sorte ecoam a elação óbvia que a imprensa entrega mastigada: a criança só foi agredida porque o casal era gay, ignorando o número assustadoramente maior de heterossexuais que comentem o mesmo crime.

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O problema desta elação preconceituosa, além de ser falsa, é que ela abre o precedente para que possamos fazer o mesmo tipo de correlação a crimes cometidos por pastores, por exemplo. Posso dizer que todos os evangélicos são pedófilos porque alguns pastores abusaram sexualmente de jovens (aqui, aqui e aqui)? Ou posso então afirmar que pastores evangélicos são moralmente inferiores, já que alguns deles (aqui, aqui e aqui) cometeram crimes? Devo julgar todos os pastores da mesma forma que um acusado de estelionato, de usar mandato público em detrimento de sua igreja e por pedir a senha do cartão de crédito de um fiel? Por motivos óbvios, claro que não!

Homens, mulheres, brancos negros, indígenas, gays, travestis, heteros, cristãos, muçulmanos, umbandistas, jornalistas, psicólogos, médicos, pastores, jovens e idosos cometem crimes, mas o simples fato de pertencer a um destes grupos ou a qualquer outro não é um fator relevante para alguém cometer um crime. Não há determinismo em um crime, mas sim uma série de fatores diferentes que antecedem a sua execução.

Tentar usar qualquer característica de um criminoso como fator determinante para o crime em si serviu para discriminar negros, indígenas, religiões minoritárias, nordestinos, ciganos, moradores dos subúrbios e das favelas, além de homossexuais, e para justificar qualquer violência contra esses grupos, como negar direitos e cidadania. São preconceitos abjetos como estes que criaram estereótipos deformados, e que escavaram ainda mais o abismo entre as minorias e o resto da sociedade no Brasil. Cabe a todos nós tapar este abismo com dignidade, humanidade e verdade.

Comentários em: "Indigência intelectual, ‘homossexuais criminosos’ e a imprensa homofóbica" (27)

  1. Robson disse:

    É a mesma coisa que os gayzistas fazem quando uma pessoa que é pratica a homossexualidade sofre algum tipo de crime: “Homossexual” foi morto ou assaltado…. já destacam o termo “Homossexual” como se fosse uma caraterista “anatomica” dos seres humanos. E o mais engraçado é que os gayzistas quando um “homossexual” é morto já presume que foi crime de “Homofobia” pq vc não fala do caso do Palhaço “pirulito”? no começo presumiram “homofobia”, mas depois descobriram que um garoto de programa (que tbm é gay) matou-o.

    • Acho que você deve ter chagado até este post pela ‘indigência intelectual’, né Robson? Como eu disse no texto, a orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa só são relevantes para uma matéria quando tem RELAÇÃO com o crime. Quando um crime tem ou parece ter motivação homofóbica, deve ser tratado como tal, bem como um crime de racismo assim deve ser tratado se tiver elementos que embasem tal teoria.

      Você deve supor que centenas de homossexuais devam morrer no Brasil, de DEZENAS de formas, todos os dias né? Você devia notar que a gente só fala sobre CRIMES VIOLENTOS e que possivelmente tem motivação homofóbica. Ou outros, são crimes comuns, mesmo que igualmente repugnantes.

      E sobre o Palhaço Pirulito, quem aventou a possibilidade de homofobia foi A POLÍCIA CIVIL. Se você acompanhou o caso, deveria lembrar disso. 😀

      • Solrac disse:

        Robson: ontem morreu o Emílio Santiago, que era homossexual. Você viu alguém dizer que ele morreu por ser homossexual? Não, né? Obviamente essa informação não era relevante para falar da sua morte, pois ela não foi motivada pro homofobia. Nas matérias que fazem referência à homossexualidade ou à transsexualidade de uma vítima de violência, o objetivo é mostrar que no mínimo existe suspeita de que houve motivação homfóbica.

  2. Tiago disse:

    Nossa, essa falácia do Robson é uma das melhores (piores, no caso). Eu, heterossexual, nunca fui agredido na rua simplesmente por ter essa orientação sexual (“e aí seu heterozinho, já comeu uma mulher hoje? Comeu, né? vai apanhar então”). Ao contrário, muitos homossexuais apanham e MORREM simplesmente por sua orientação sexual. Não era briga de torcida, briga de bar, desafeto de escola, nem nada. Simplesmente passou pela rua e levou uma pancada na cara. Aí sim podemos associar o crime à sexualidade. Se esta não tem nada a ver com o delito, não há necessidade de postagem. Exemplos:

    “Homem heterossexual morre eletrocutado”
    “Casal heterossexual mata filho”
    “Padre heterossexual abusa de coroinha”

    Um pouco cansado de tentar explicar isso, mas tem gente que parece que não entende.

    Quanto ao post, parabéns ao autor. Muito bem escrito e argumentado! Uma pena que esses “cristãos” (não acredito que vi a Marisa Lobo de novo incitando ódio) estão apelando para esse tipo de falácia da generalização. Pior: Sendo pessoas que influenciam massas menos críticas – aparentemente -, muitas pessoas sairão por aí vomitando essas coisas.

  3. Renatinha disse:

    (respondendo ao comentário de Robson)
    Claro que não é a mesma coisa!
    Quando a comunidade LGBT (ou a sociedade como um todo, ou alguma meio de comunicação sério) noticia o assassinato de um homossexual que aconteceu pelo simples fato de ele ser homossexual configura homofobia, e esse “destaque” dado à condição de homossexual neste caso se justifica de modo a chamar atenção por uma situação recorrente e que se luta para sua criminalização. Seria como noticiar que um grupo nazista matou um judeu pelo fato de ele ser judeu. Não quer dizer que todo judeu(ou homossexual, ou negro, ou mulher…) assassinado foi por causa de ser o que se é.
    Essas situações são totalmente diferentes das noticiadas na matéria, nas quais levianamente tenta-se associar crimes à condição de gênero. Crimes estes que acontecem em vários setores da sociedade por diferentes autores, não importando sua orientação. E o que chama atenção é o porquê que apenas quando acontece com um individuo homossexual esse “detalhe” é gritado como se fosse parte condicional e importante para o crime ter ocorrido e não é.

  4. Mateus disse:

    Heteronormatismo. Olha a generalização

  5. Excelente texto, sempre bom lembrar que as minorias são sempre prevalecem com relação a qualquer artigo noticiado, sempre foi assim, quem sabe um dia mudem, mas a Record é mais apelativa ainda relacionado sempre estes termos.

  6. Sobre o tufíte do jornal O Globo.. Eu já vi várias notas/chamadas de telejornais sobre casos parecidos – trafico de drogas em aeroportos – e sempre as manchetes são parecidas. Ex. ” Homem é preso tentando embarcar com drogas…” ou “Mulher é presa no aeroporto tentando…” Então, sinceramente, eu achei normal colocar o Travesti no tuíte.. Se alguém descorda, por favor, como vc reescreveria a nota?

    • Um travesti não é um ‘terceiro sexo’. A tentativa é de reforçar o estereótipo de marginalidade e criminalidade de pessoas transsexuais.

      “Traficante é presa tentando embarcar com drogas”. Pronto, tá reescrito, desta vez sem tentar colar criminalidade em um grupo de pessoas.

    • Só não entendi o homofobia entre aspas, mas tudo bem. E pelo descrição da polícia, parece ser mesmo ou crime de ódio motivado por homofobia ou crime passional.

  7. Robson disse:

    Esse crime foi passional, pois a vitima estava nua, e testemunhas disseram que um homem estava sem camisa e todo suado quando saiu da casa da vitima. Se essa tal “homofobia” existir ela fica restrita ao homossexuais, e não como a imprensa faz, dizendo (implicitamente) que é um crime cometido por um heterossexual contra um homossexual.

    • O que torna um crime homofóbico não é quem comete, mas a motivação. Um negro pode ser racista, uma mulher pode ser machista, por exemplo.

      • Robson disse:

        É.. mas a impressa não trata assim, trata como eu falei no final do texto

      • Robson disse:

        Então, se algum gay não quer ser chamado de doente, ele não deve chamar ninguém de “homofobico”. Se um gay me chamasse de homofóbico, só porque eu não gosto da homossexualidade e não concordo com o homossexualismo, eu o processaria na hora, pois não há base NENHUMA para tal afirmação. 🙂

        Só lembrando, a homossexualidade foi retirada da lista de doenças por motivos de pressão politica, e não por comprovação cientifica.

      • E é? Foi por pressão política? Poxa, você sabe muito das coisas, vou até encerrar a discussão por aqui, querido. 🙂

  8. Que vergonha de ter um xará idiota como esse u_u

  9. O texto é ótimo, desnudou essa mania imbecil da mídia de rotular pertencentes a minorias os quais são acusados de crimes – ao mesmo tempo em que não rotula, por exemplo, brancos, héteros, cisgêneros, católicos etc. Só tenho uma crítica a fazer: nesse trecho:

    “Homens, mulheres, brancos, negros, indígenas, gays, travestis, heteros, cristãos, muçulmanos, umbandistas, jornalistas, psicólogos, médicos, pastores, jovens e idosos cometem crimes, mas o simples fato de pertencer a um destes grupos ou a qualquer outro não é um fator relevante para alguém cometer um crime.”

    faltou incluir os ateus. Existem ateus que cometem crimes, mas esses crimes não são pelo fato de serem ateus.

    Peço que, por favor, inclua os ateus nesse grupo de categorias, já que nós ateus sofremos tanto ou mais com esse tipo de preconceito rotulador e estereotipador que as outras minorias.

  10. Paulo Sergio disse:

    Os homossexuais só estão saindo do armário hoje porque o terreno foi, durante muitos anos, devidamente preparado para que os homens pudessem assumir sua homossexualidade sem sofrerem condenação pública. É de temer que quando a pederastia finalmente sair do armário de sua ligação com o homossexualismo, o terreno também já estará devidamente preparado para que não mais haja condenação para os homossexuais que “amam” meninos.

    Forum em Defesa da Família

    • O título deste texto cabe muito bem a você, Paulo Sérgio, que é um indigente intelectual. Uma relação afetiva ou sexual só pode acontecer entre DOIS (ou mais) adultos capazes, logo, ‘homens que amam meninos’ (e porque não mulheres também? Não existem mulheres pedófilas?) são estão cometendo um crime, pois estão relacionando-se com um cidadão incapaz legalmente de discernir sobre o que está fazendo. Agora, é óbvia a tentativa do camarada do ‘Fórum em Defesa da Família’ (qual família, alias? A minha, com meu marido e minha mãe, com certeza não é), usa de toda sua má fé para tentar ligar a homossexualidade a pedofilia, sendo que diversas estatísticas apontam para um número esmagadoramente maior de casos de pedofilia DENTRO DE CASA, entre pais, tios, primos, etc contra crianças.

    • Não custa tentar iluminar uma mente no obscurantismo: as relações afetivo-sexuais tem de ser CONSENTIDAS, querido! Uma criança não tem DISCERNIMENTO pra ter uma relação desta natureza, logo, no nosso entendimento legal moderno, este tipo de relação NUNCA SERÁ LEGALIZADA, bem como relações com outras coisas sem DISCERNIMENTO, como cadáveres, animais, etc.

      Difícil de entender?

  11. Mel disse:

    Tem q saber interpretar, pensar as estatísticas, pra entender ….vc diz q tem mais meninas que meninos vitimas de pedófilos? N necessariamente. Vc n se perguntou pq tem maior numero de meninas abusadas? ou prefere n comentar e atribuir maior caso de pedofilia aos héteros? rsrs Quando padre, pastor, abusa do mesmo sexo, vcs n comentam q o padre eh homossexual, mas gritam q ele eh padre ou pastor. rs A maioria, esmagadora, dos casos de pedofilia por religiosos eh contra meninos!!
    Tem mais meninas q sofrem abuso sexual, pq os que abusam de menina são pedófilos (héteros e bissexuais) e n pedófilos. Sao pedófilos, sujeitos q sentem atração sexual primaria por criança. Muitos dos casos contra meninas ocorre pela proximidade, acesso, dentro de casa, e esses abusadores podem ser héteros ou bissexuais. Então “esquecem” tbm de comentar das meninas q são vitimas de bissexual dentro de casa !! Os casos de abuso sexual contra meninos homossexuais, bissexuais, pedófilos.
    Recentemente teve denuncia contra um homossexual envolvido com quadrilha de exploração sexual infantil no AM, vai procurar a matéria, dificilmente vc encontra q um dos cabeça era um homossexual, assim fica fácil deixar todos os crimes nas costas dos héteros, pq quando se fala de homem , mulher, subtende-se hétero, neh? Por isso só querem q mencione homossexual quando o cara for vitima? No caso q o Robson colou, n era crime de homofobia, foi um homossexual q matou o cara, crime praticado por um gay, mas sem duvida entrou pra estatística como crime de homofobia. Assim ,mesmo sendo o número de homossexuais assassinados ínfimo, proporcionalmente falando, ao numero de vitimas héteros, o movimento sexual GLBT tenta conseguir suas leis as custas da moral hétero. Os héteros “homofobicos”, o q eh muito triste, desonesto, pq estão acusando aqueles q menos agridem homo aqui no Brasil. O maior numero de assassinato de homossexual eh cometido por seus parceiros homossexuais, e por estarem os homossexuais em situação de risco; trafico de drogas e prostituição. Se for pensar q todo homossexual assassinado eh por homofobia, então teríamos q criar LEI contra HETEROFOBIA, ja que são assassinados mais de 50 mil pessoas por ano no Brasil.Coloque aqui quantos homossexuais sao assassinados por ano!! Vc vai achar esse movimento sexual ridículo, como se homossexual n pudesse ser assassinado, só héteros. Considero esse movimento sexual criminoso, injusto, pq nos acusa de criminosos para ter direitos q n tem direito como homossexual, (casamento eh entre mulher e homem, logo, hétero, e homossexual n eh hétero, entendeu?) Os homos vão querer os direitos dos negros sem serem negros, e dos deficientes físicos sem serem deficientes físicos? N tem como ser igual se eh diferente. Respeite as diferenças!! E eh de extrema covardia comparar homossexualidade com racismo. O negro tbm pode ser homossexual, mas ele sofre preconceito por uma condi;ao, cor da pele, q ele n pode deixar em casa antes de ir a um restaurante, antes de ir procurar um emprego, n eh comportamento. Depois vai ver as estatísticas, veja em q classe social esta a maioria dos negros e a maioria dos homossexuais, n atoa os homossexuais sao defendidos pela mídia. Sao bons consumidores de produtos finos. A mesma lei q defende héteros, defende homossexuais, n estão contentes? Então eu tbm n estou, principalmente pq mulheres, sim, sao mortas dentro de casa, n precisam ir se prostituir e traficar pra serem mortas. Crianças tbm, idosos tbm….! rs Tem a Maria da Penha, mas n inibe o numero de assassinato de mulheres. Essas leis, Estatuto q o movimento sexual GLBT, quer aprovar eh pra explorar pessoas e instituições com indenizações, como estão fazendo em países onde foram aprovadas, e desconstruir nossa cultura, ou tu acha q quem mata homossexual mata pq n vai preso?. Se mete com trafico pra ver …mesmo sendo hétero, homo, criança. Fechando tu vai ter q pensar um pouco mais antes de afirmar q tem mais héteros pedófilos. E distingua pedofilia de pedófilo, nem todo abuso contra criança eh por pedófilo, mas todos entram como pedofilia. E pense proporcionalmente tbm rsrs
    Culpe o movimento GLBT por ter essa associação GLBT com a pedofilia, pesquise, organizações pro pedofilia estiveram lutando por décadas junto ao movimento GLBT, depois q a pedofilia foi criminalizada, acharam por bem, evitar o discurso pro pedofilia nesse movimento GLBT.
    Abraço e saiba q eu n tenho nada contra homossexual, tenho amigos e parentes homossexuais, eu n aceito o q esse movimento GLBT esta fazendo em vários países. N eh so aqui não. Eles so n se metem com os religiosos radicais, muçulmanos. E eu tbm n pratico nenhuma religião, antes q vc tente me enquadrar em uma dessas categorias q o movimento GLBT esta usando pra descredibilizar quem eh contra as leis, q eles estão querendo aprovar. Os rótulos já são conhecidos.E o preconceito eh palavra chave, homofobia bla bla bla, Mas ate Clodovil, assumidíssimo, rsrs era homofóbico, segundo os militantes desse movimento, então fica fácil me rotular disso tbm.

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