Diversidade, em todos os sentidos

Eu não vou parar.

Eu nunca pensei em entrar, mas agora que eu entrei, não há deus, diabo, ou lâmpada fluorescente explodindo na minha cara que me fará sair.

Eu não vou parar. Eu não posso.

Não posso parar porque a próxima cara no asfalto cheia de sangue pode ser a minha, pode ser a cara do meu namorado, pode ser a cara de um amigo meu, pode ser a cara do meu pai.

Eu não posso parar porque outros já pararam.

Eu não posso parar porque muitos nem sabem que deviam ter começado.

E há tanto a se conquistar, tanto a se corrigir, tanto a se equiparar.

Ninguém deveria lutar pelo o que é seu de direito.

Ninguém deveria ser obrigado a se sentir menos humano, menos brasileiro, menos gente, menor.

Ninguém deveria ter o casamento negado, o compartilhar negado, os direitos negados, liberdade negada, a vida, enfim, negada.

Mas isso acontece.

Tem gente que é impedida de ser feliz.

Tem gente que é impedida de viver.

E isso me incomoda profundamente.

É por conta disso, desse incômodo, que eu não posso parar.

É por conta dos que pararam de lutar e pelos que ainda não começaram a batalha.

É pelo Alexandre Ivo e pelos moleques sem nome que morreram por serem como eram.

É por conta dos ‘viadinhos’, ‘bichinhas’, ‘travecos’, ‘mulheres-macho’, ‘sapatonas’.

É por conta de mim mesmo. E é por conta de todo mundo que precisa e por conta de quem nem sabe que precisa.

É por quem quer casar, por quem quer andar junto na rua, de mãos dadas, por quem quer dizer que é gay sem medo, é por quem quer, enfim, ser feliz.

O que dói nessas pessoas dói em mim.

Cada osso quebrado é um osso meu.

Cada ofensa é dirigida a mim.

Cada dia sem sossego desassossega a mim.

Não é pedir muito.

É pedir o justo.

É pedir o mínimo.

Não me sinto justiceiro de nada, nem me sinto bastião de uma causa.

Não quero fama, não quero dinheiro, não quero poder.

Quero paz. Pra mim e pros meus iguais.

Faço o pouco que faço, e farei até quando puder.

Faço o que posso na esperança de outros fazerem também,

E pra que um dia, eu olhe pro lado,

Veja um casal gay, despreocupado de tudo,

E preocupado apenas em ser feliz.

Até lá,

Eu não vou parar.

Comentários em: "Porque eu não posso parar." (10)

  1. E sabe o que mais me dói? Quando eu vejo pais e mães das vítimas desse monstro se unirem a ele para atirar pedras em seus filhos. E se pais e mães fazem isso, quem vai pegar essas meninas e meninos no colo e zelar por eles? Não há ninguém…

    E eu sinto isso tudo com um nó tão apertado na garganta… Lágrimas. Muitas. Porque eu vejo seres humanos como eu, exatamente como eu, atacando a outros seres humanos como eu. Tão cheios de ódio, de nojo, de um completo desconhecimento da humanidade que nos deveria unir. Utopia? Pode ser…

    Mas como seria o mundo se as pessoas apenas amassem umas às outras por cinco minutos que fossem? Mas não pode ser assim, não é? Porque esse monstro se divide e se alastra mais do que meus braços alcançam para impedir. E eu choro… E a minha fé no ser humano quase se apaga. Estamos sozinhos. Segregados. Separados. E enquanto não bastar o amor, assim permaneceremos: divididos em guetos, marginalizados, apartados.

    Em nosso País, a afetividade de cerca de 19 milhões de seres humanos (10% da população) vem sendo humilhada, ridicularizada e atacada sob o manto da liberdade de expressão. Em situações de preconceito e discriminação, são interditados o respeito, a dig­nidade e a liberdade como valor ético central. E o que fundamenta esta lógica opressora e fun­damentalista é o moralismo como julgamento de valor que reproduz princípios, regras e nor­mas preconceituosas que não são racionalmen­te sustentáveis.

    Pode parecer um pensamento extremista, mas seres humanos que compactuam com pessoas que esbravejam contra os direitos civis de outros seres humanos, podem muito bem no futuro inventar argumentos para perseguirem qualquer pessoa que não esteja dentro de seus padrões de comportamento.

    A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que todos nascemos livres e iguais em dignidade e direitos e que a cada pessoa é dado exercer todos os direitos e as liberdades existentes nesse instrumento, sem qualquer distinção de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição.

    Dado o exposto, é possível afirmar que a diversidade sexual possibilita uma vivência significativa e autônoma, pois permite que haja uma compreensão ampla da concepção dos direitos humanos, de forma que possibilite a materialização da equidade, em que pontos de vista diferentes estejam presentes sobre assuntos comuns de maneira democrática. E assim, formando pontos comuns em meio à respeitabilidade coletiva, mesmo que não haja uma concordância.

    É preciso amar não apenas como se não houvesse amanhã. A cada segundo do dia, o milagre cósmico se desenrola diante de nós. Uma interminável série de transformações acontece diante de nossos olhos: sementes se transformam em plantas, flores em frutos, frutos em novas vidas. Cada planta, animal, nuvem, mesmo o sol, a lua, o oceano podem contar histórias sobre si mesmos, basta querermos ouvir.

    Diferentemente do que prega o fantasma conservador, a mudança de mentalidades não prevê uma subversão da ordem sexual. Ninguém vai deixar de ser o que é, mas manifestar o que é e viver de acordo com sua essência. É preciso aprender a ver, a escutar, a tocar, a falar e a sentir. Sobretudo, é preciso amar porque é o amor que nos faz humanos.

    William, vc não está sozinho.
    Eu também não posso parar!

    Abraços
    Bru

  2. Lindo, querido. Comovente e inspirador. Obrigada pela lembrança.

    Vc nos permite reproduzir no nosso blog, com os devidos creditos?

    Bjaum.

  3. rafael gomes disse:

    Cara, você realmente despertou em mim a importância de defender o que eu sou, a minha natureza. E saber que a cara no asfalto de amanhã pode ser a minha ou a de quem eu amo, me deixa mais mais tocado ainda. Não quero esperar isso acontecer pra correr atrás dos meus direitos como ser humano. Obrigado!

    • Fico feliz, guri.
      Acho que cada um de nós tem de fazer nossa parte,
      pra que um dia a gente possa viver sem este tipo de medo.

      🙂

  4. Não pararemos!

  5. lucas disse:

    Não pare!!!

  6. Maria José disse:

    Nunca pararemos!
    Resistiremos!
    Lutaremos!
    Poderemos até desanimar mas nunca desistiremos!

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