Diversidade, em todos os sentidos

O exagero dos deputados da Bancada Evangélica chega a ser engraçado, para não dizer ridículo, ante as demandas dos homoafetivos. Nesta semana, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) disse, em artigo publicado em seu site:

“Tal grupo (os homossexuais) representa uma minoria, não destas que sofrem de verdade, mas que sob uma camuflagem de perseguição, tenta e consegue impor seu modo de vida promíscuo, seus pensamentos anti-família e anti-bons-costumes (…) O que virá a seguir? Que Deus nos ajude! E nos ajude logo, antes que, esses fascistas, expulsem de uma vez Deus da nação brasileira, como buscam exterminar programações religiosas na TV”

Vou ignorar as falhas na argumentação do deputado, que normalmente carecem de ligação com a lógica e com os fatos. Vou ignorar que o Brasil é o líder do ranking mundial de mortes de homossexuais em crimes violentos e de natureza homofobia, e que esta discriminação é apenas a ponta de um iceberg de crimes de preconceito e de intolerância que não chegam à luz da justiça. Vou ignorar também o conceito de família do deputado (que também foi ignorado pelo STF ao aprovar a união homoafetiva) e de muitos fundamentalistas que se esquecem de atualizar seus conceitos morais para a atualidade, e que querem privar outros de fazê-lo. Vou ainda fazer vista grossa a utilização indevida do termo ‘fascista’ referindo-se a homossexuais, visto que os fascistas (com a conivência da grande maioria de instituições religiosas) mataram milhares de homossexuais durante a segunda guerra mundial (e ainda hoje), e seu espólio filosófico ainda inspira matadores de gays pelo Brasil.

Vou me ater apenas ao ponto central da argumentação de Feliciano: o medo de que os ‘homossexuais expulsem deus (e seus seguidores) do Brasil. A liberdade religiosa é uma clausula pétrea da Constituição Federal, que no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.

Mesmo que um presidente homossexual (outro além da egodistônica Dilma Rousseff) assuma o poder, as liberdades religiosas estão garantidas. Mesmo porque, em nenhum momento, em nenhuma declaração pública, nenhum homossexual (que eu tenha registro) falou contra as liberdades religiosas, não importando a crença ou denominação. O problema é que muitas destas denominações não querem apenas viver suas ideologias, mas as impor sobre toda a sociedade, de forma autoritária e (aí sim) fascista. Não compete ao Estado ou a Constituição versar sobre o que é pecado e sobre os conceitos infundados de família que A ou B tenham criado, mas garantir os direitos humanos a todos, independente de crença, baseados na liberdade individual e no que há de mais moderno no mundo em relação a estes direitos.

Agora, os direitos dos homossexuais (inclusive de existir ou de morar no Brasil) podem ser ameaçados se um grupo fundamentalista assumir o poder. O medo tem de ser nosso e não dos evangélicos. O que garante que um presidente evangélico não possa ‘proibir relações entre pessoas do mesmo sexo’? O que garante que uma maioria absoluta no congresso não torne homossexualidade uma doença e o tratamento compulsório? Mesmo sem maioria, eles já querem fazer tal absurdo, através do projeto de lei do Deputado Federal João Campos (PSDB-GO), usando truques de lingüística simplistas chamando a cura de ‘tratamento’, sem buscar no dicionário o significado de ‘tratamento’.

O que nos garante que teremos direitos assegurados com uma maioria de fundamentalistas no poder, se hoje já não temos direitos respeitados? Como esperar que a discriminação contra LGBTs cesse, se não ensinarmos as gerações futuras a beleza da diversidade entre as pessoas? Sem a aprovação de um projeto que torne obrigatório o ensino de orientação sexual e identidade de gênero nas escolas públicas e particulares, obviamente adequadas a realidade pedagógica de cada jovem, nunca sairemos deste ciclo vicioso de homofobia e preconceito.

Como seus pensamentos em looping, os fundamentalistas querem que a existência dos homossexuais seja miserável, para poder então ‘curá-los’, aumentar seus rebanhos, e consequentemente seus lucros. Os LGTB seriam sempre discriminados por terem seus direitos (inclusive a vida) negados por pessoas que não aceitam a diversidade. E estas pessoas não aceitam ou compreendem a diversidade porque não forem EDUCADAS para tal, pois nem em casa ou escola ensinam isso.

A falta de coerência nos argumentos do Deputado Marcos Feliciano é aterradora, e a forma como ele tenta manipular as massas que o seguem também. O medo de perder direitos civis, de perder a dignidade, de perder o emprego, de perder o abrigo em casa, de perder os amigos, a família, de perder dentes, de ter ossos quebrados, de perder a vida em um beco de uma cidade qualquer, é NOSSO, deputado. Porque este medo real, e não hipotético, já faz parte do cotidiano de todos os gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais brasileiros.

Comentários em: "O medo é nosso, e não dos evangélicos, Marco Feliciano" (15)

  1. Cadê a união da comunidade??

    • Todas as nossas manifestações são pacíficas, apenas reivindicando IGUALDADE de direitos e sem cercear direitos de outros, mas mesmo assim os nossos opositores – os mesmos que incitam o ódio que leva aos assassinatos e suicídos de nossos jovens – ainda nos intitulam de “golpistas”, “ditadores”, “gayzistas”, “fascistas”, etc…

      Imagine então se nós realmente fossemos extremistas?
      Imagine se nós não aceitássemos passivamente continuar com a troca das vidas de nossos jovens pela libertinagem de expressão do ódio de nossos opositores?
      Imagine se nós nos defendêssemos e defendêssemos os nossos nessa “guerra santa” onde o sangue é feito jorrar somente do nosso lado?

      Bom, mas se por acaso alguns de nós (ou de nossos aliados) começasse a fazer algo de forma “efetiva e exemplar” pela defesa de nossa SOBREVIVÊNCIA, lançando contra-ataques sobre todos os líderes que instigam o ódio das massas contra nós, então o que tais algozes diriam mais a nosso respeito?

      Bom, provavelmente continuariam nos chamando das mesmas coisas que já nos chamam (“gayzistas”, “ditadores”, etc), no entanto, é certo que seriam obrigados a fazê-lo sob escolta policial – esta, facilmente bancada com as verbas que o Estado deixa de destinar a campanhas contra a homofobia. Talvez a diferença ficasse por conta do clima de medo que se abateria sobre o cidadão comum – aquele ser que sempre nos viu como uma grande ameaça mesmo – que agora pensaria duas vezes antes de bater no peito e bradar discursos homofóbicos, especialmente diante de suas crias, afinal, diferentemente de alguns líderes como Padres, Pastores e Políticos que contariam com a privilegiada escolta governamental bancada com dinheiro público, esses “pobres cidadãos” estariam totalmente suscetíveis às possíveis sanções impostas pelos “grupos terroristas da Ditadura Gay”.

      Mas enfim, FELIZMENTE nós nunca teremos LGBTs ou simpatizantes organizando tais grupos extremistas como tanto apontam os nossos caluniadores. Afinal, sabemos que o nosso meio é PACÍFICO E PASSIVO, SEMPRE! É óbvio que preferimos continuar mais alguns séculos enterrando nossos parceiros, amigos e familiares inocentes vítimas dos senhores do nosso país.

      Mas é claro nós não ficamos de braços completamente cruzados. Nós também nos indignamos, nos lamentamos e – o mais importante – temos “ATITUDE”:

      Periodicamente, seguimos clamando (marchando) publicamente pela misericórdia dos nossos próprios algozes que comandam os rumos da nação, sempre com a esperança (ela é a última que morre) de que os carrascos talvez possam ir se “sensibilizando” e, assim, resolvam amenizar paulatinamente o peso de sua massacrante opressão genocida sobre as nossas vidas “de segunda categoria”.

      NUNCA haverá “grupo extremista” LGBT. Portanto, nossos opressores assassinos poderão continuar a pôr suas cabeças em seus confortáveis travesseiros e dormir tranquilamente após cada dia de instrução dada aos seus descendentes para que estes não deixem morrer os “tradicionais valores e bons costumes” de nos perseguir, nos oprimir e nos matar em nome do Estado Brasileiro sob a santa outorga do piedoso Deus judaico-cristão que rege esta grande nação, em nome de Jesus!

      Não importa o que nos façam ou continuem a fazer para nos massacrar, afinal, nós, LGBTs…
      “SOMOS A FAVOR DA PAZ. SEMPRE.”

  2. Angela Moysés disse:

    William, faço das suas palavras as minhas. O medo é nosso! Parabéns pela lucidez.

  3. O pior é saber que pagamos para ouvirmos isso!

  4. Majú Giorgi disse:

    Lindo texto meu querido !!! Compartilhando !!

  5. Acho que algumas manifestações só atingem grande dimensão porque ajudamos a repercutir. Vamos ignorar algumas coisas e argumentar contra o que realmente mereça.

    • E um deputado da república pode falar o que quiser e sair impune?
      Pode chamar o movimento LGBT de fascista e a gente tem de ficar quieto?

      Prefiro responder.

  6. Pois eu já estou de saída deste país homofóbico.
    Espero nunca mais voltar!

    Egoísta, eu?
    Não, apenas tenho amor próprio.

    Desculpem, mas a causa LGBT já está perdida no Brasil, com nossa militância oficial completamente vendida, a militância real desarticulada e dividida, e os cidadãos comuns passivos diante deste retorno à Idade das Trevas!

    Sou covarde por fugir do país?
    Antes um covarde vivo, que um herói morto.

    Mas parabéns aos heróis que ficarem!
    Adieu.

  7. tesourointerior disse:

    Poderia visitar o meu blog? http://tesourointerior.wordpress.com/

    Faz troca de links, se sim, deixa um comentário no meu blog. Abç!

  8. Porque os evangélicos( não todos) que dizem seguir a bíblia a risca e usam a palavra para atacar orientação sexual alheia, não usam seu precioso tempo e também as orientações bíblicas e seguem aos becos e valados para ajudar os pobres e necessitados ? Ao invés de criar projetos de cura gay, não criam projetos nos subúrbios dos grandes centros para levar cidadania aos que sofrem com o descaso do estado? Porquê ? Alguém poderia me responder ? Afinal ser cristão não é viver pra atacar e sim amar o próximo como a si mesmo.
    O bem que sei que devo fazer e não faço é pecado.
    Poderia citar vários outros trechos ou versículos bíblicos que escapam aos olhos destes hipócritas de plantão.

  9. EXCELENTE! Uma argumentação demonstrada, analisada, e precisamos cada vez mais disso, não de mera repetição de palavras de ordem!

    Foi precisamente nesse sentido que busquei sistematizar a ideia das “três ordens de liberdade”: ela está implícita num texto como o seu, e talvez seja útil à nossa comunidade (e a de qualquer comunidade discriminada) perceber essa ideia implícita e explicitá-la para ter fácil em mãos como ferramenta ou como arma. Vai aí o link:

    http://pluralf.blogspot.com/2011/06/as-tres-ordens-de-liberdade-ou-por-que.html

  10. O sonho de ter uma nação onde cada um conviva com os outros sem se preocupar com opção, cor, time, religião, escolhas pessoais parece cada vez mais impossível.

    O medo é de todos, realmente. E me causa uma ira profunda ver gente branca, hetero, que se diz homem e de classe média vir dizer que é perseguido. Ele não tem ideia do significado dessa palavra, não tem ideia do que é sair na rua com o medo constante que gays, mulheres, negros entre outros são obrigados a conviver.

    Tenho nojo dessa cambada fundamentalista que adora cuidar da vida dos outros.

  11. Marc disse:

    Excelente Texto! E concordo plenamente com a sua opinião, só acho que o termo “fascista” não se refere só para Nazistas, visto que essa palavra define qualquer governo ou grupo totalitário e nacionalista que visa a superioridade de uma raça nacional ou étnica. Logo, dentro do contexto do padre não foi um uso indevido pois imagino que na cabeça do infeliz ele quis dizer que o grupo dos homossexuais é fascista por aparentemente querer dominar o Brazil e expulsar todos os religiosos e de algum modo Deus junto. Mas independente do uso ter sido correto ou não, ainda acho um absurdo ele falar isso. Continue a escrever,
    Abraços

  12. Todas as nossas manifestações são pacíficas, apenas reivindicando IGUALDADE de direitos e sem cercear direitos de outros, mas mesmo assim os nossos opositores – os mesmos que incitam o ódio que leva aos assassinatos e suicídos de nossos jovens – ainda nos intitulam de “golpistas”, “ditadores”, “gazistas”, “facistas”, etc…

    Imagine então se nós realmente fossemos extremistas?
    Imagine se nós não aceitássemos passivamente continuar com a troca das vidas de nossos jovens pela libertinagem de expressão do ódio de nossos opositores?
    Imagine se nós nos defendêssemos e defendêssemos os nossos nessa “guerra santa” onde o sangue é feito jorrar somente do nosso lado?

    Bom, mas por acaso alguns de nós (ou de nossos aliados) começasse a fazer algo de forma “efetiva e exemplar” pela defesa de nossa sobrevivência, lançando contra-ataques sobre todos os líderes que instigam o ódio das massas contra nós, então o que tais algozes diriam mai a nosso respeito?

    Bom, provavelmente continuariam nos chamando das mesmas coisas que já nos chamam (“gayzistas”, “ditadores”, etc), no entanto, é certo que seriam obrigados a fazê-lo sob escolta policial – esta, facilmente bancada com as verbas que o Estado deixa de destinar a campanhas contra a homofobia. Talvez a diferença ficasse por conta do clima de medo que se abateria sobre o cidadão comum – aquele ser que sempre nos viu como uma grande ameaça mesmo – que agora pensaria duas vezes antes de bater no peito e bradar discursos homofóbicos, especialmente diante de suas crias, afinal, diferentemente de alguns líderes como Padres, Pastores e Políticos que contariam com a privilegiada escolta governamental bancada com dinheiro público, esses “pobres cidadãos” estariam totalmente suscetíveis às possíveis sanções impostas pelos “grupos terroristas da Ditadura Gay”.

    Mas enfim, FELIZMENTE nós nunca teremos LGBTs ou simpatizantes organizando tais grupos extremistas como tanto apontam os nossos caluniadores. Afinal, sabemos que o nosso meio é PACÍFICO E PASSIVO, SEMPRE! E que preferimos continuar mais alguns séculos enterrando nossos parceiros, amigos e familiares inocentes, enquanto periodicamente seguimos clamamos publicamente pela misericórdia dos nossos próprios algozes que comandam os rumos da nação, para que estes talvez possam ir se sensibilizando e resolvam diminuir paulatinamente o peso de sua massacrante opressão genocida sobre nossas vidas de segunda categoria.

    NUNCA haverá “grupo extremista” LGBT. Portanto, nossos opressores assassinos poderão continuar a pôr suas cabeças em seus confortáveis travesseiros e dormir tranquilamente após cada dia de instrução dada aos seus descendentes para que esses não deixem morrer os tradicionais bons costumes de nos perseguir e nos oprimir socialmente em nome do Estado Brasileiro sob a santa outorga do piedoso Deus judaico-cristão que rege esta grande nação.

    Não importa o que façam ou continuem a fazer, pois nós, LGBTs…
    “SOMOS A FAVOR DA PAZ. SEMPRE.”

  13. christiana medeiros disse:

    Parabens pr.marcos continui lutando contra essa lei abirsurda e Deus vai lhe da forca admiro muito o seu pontencial que Deus continue lhe usando grandiozamende a gradeco pelos seus dvd pois converteu meu esposo. A paz do senhor.cris iranduba manaus

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